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Fortaleza-CE: vitória na derrota nacional

Fortaleza-CE: vitória na derrota nacional

Em uma vitória impulsionada pela combativa militância social histórica da cidade, o PT vence, de virada, o candidato bolsonarista nessa única capital do país em meio à derrota nacional da esquerda. Todavia, a direita sempre teve hegemonia nas eleições municipais. Desde o final da ditadura, essa hegemonia vinha diminuindo, até que a direita recorreu ao golpe em 2016. A esquerda tem muito a aprender com as lições dessa disputa pela consciência do povo trabalhador contra os fascistas.

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O PT ganhou as eleições do segundo turno em: Fortaleza (CE), Pelotas (RS), Camaçari (BA) e Mauá  (SP), chegando a 252 prefeituras conquistadas pelo partido. Esse número de prefeituras é 40% do que o PT chegou a governar após as eleições de 2012, quando o partido elegeu mais prefeitos em sua história, 638, ao total.

Histórico de prefeitos eleitos pelo PT:

2004:  409 prefeitos

2008:  558 prefeitos

2012:  638 prefeitos

2016:  254 prefeitos

2020:  183 prefeitos

2024:  252 prefeitos

O resultado demonstra uma leve recuperação dentro de uma tendência de retrocesso predominante desde o processo golpista do impeachment de Dilma.

Nas eleições municipais de 2016, o conjunto dos partidos da esquerda legalizada elegeu 19,7% dos prefeitos. Em 2020, a esquerda retrocedeu ainda mais, caindo para 14,6% das prefeituras.

A direita sempre teve hegemonia nas eleições municipais

Mas, apenas os impressionistas deixam-se levar por esse resultado ou pela autoproganda da mídia imperialista e impulsionadora da direita:

"Entre os grandes vencedores destas eleições estão: o Centrão, a direita e centro-direita, que juntos, vão comandar a maior parte das prefeituras do Brasil." (CNN: Os grandes vencedores [e os perdedores] das eleições municipais).

A verdade é que a direita comanda a maior parte das prefeituras do Brasil desde sempre.

A conquista das prefeituras pela esquerda teve um grande marco político após a ditadura militar (1964-1985) quando o Partido dos Trabalhadores ganhou sua primeira eleição em capital através da candidatura de Maria Luiza Fontenele, justamente em Fortaleza, em 1985.

Mas, mesmo em 2012, toda a esquerda reunida não elegeu 1/4 dos 5.565 prefeitos do país.

No século XXI, essa hegemonia da direita vinha diminuindo, mas o processo político progressivo foi artificialmente abortado, atropelado pelo golpe de Estado de 2016. Foi um movimento de expropriação dos direitos políticos da classe trabalhadora pela burguesia, começou pela anulação da vitória eleitoral popular de Dilma, através do impeachment, seguido pela prisão e impedimento de Lula de disputar as eleições de 2018.

Esse processo golpista de expropriação dos direitos políticos dos trabalhadores foi apenas parcialmente contido com a derrota da reeleição de Bolsonaro em 2022. 

O processo político golpista engendrou contrareformas (trabalhista e previdenciária) que expropriaram direitos trabalhistas, sindicais e previdenciários, assim como aprofundou a exploração da mais-valia da população trabalhadora, ampliando as horas trabalhadas e aviltando o valor dos salários (PT: Reforma de Temer aumenta jornada de trabalho em 43 dias por ano).

Sob o governo Bolsonaro e durante a pandemia, o ciclo de acumulação de capitais detonado com o processo golpista foi turbinado. A desigualdade social foi potenciada com a explosão da miséria social, impossível esquecer as filas para a compra de ossos (CNN: Brasil fica em terceiro lugar no ranking de maior desigualdade entre 56 nações).

Na ponta da miséria crescente, o Brasil chegou a 227 mil pessoas em situação de rua, um aumento de 935% em 10 anos, só em São Paulo são 80 mil trabalhadores sem tetos. Na outra cara-metade desse processo, na ponta da acumulação de capital, ocorreu o crescimento inédito do número de bilionários no país (Exame: Número de bilionários cresce no Brasil; soma das fortunas supera 200 bilhões de dólares).

Uma pequena parte dessa dinheirama concentrada nas mãos da burguesia é reinvestida nos representantes políticos desses bilionários, na disputa pelos poderes e instituições, nas igrejas, forças armadas (através do chamado partido militar), mídia, justiça, conselhos tutelares, parlamentos, executivos,...

 

A disputa pelo povo e as ruas entre os comunistas e os fascistas

Os comunistas precisam combinar várias formas de luta para conquistar a classe trabalhadora para a luta revolucionária: luta política, luta ideológica, luta por reformas e melhorias nas condições de vida da população e, inclusive, políticas assistenciais.

Em 1906, os bolcheviques organizavam os desempregados, restaurantes comunitários e distribuíam dinheiro (uma espécie de bolsa famíllia) para os mais pobres: 30 kopeks por dia para cada adulto, e 15 e 10 kopeks para cada crianças.

Entre outras, essa política fez com que os bolcheviques conquistassem gradualmente influência sobre a população trabalhadora em relação ao Tzar, pelo qual a população possuía uma verdadeira devoção até a revolução de 1905; a poderosa Igreja cristã ortodoxa; em relação aos outros partidos como os kadetes, populistas (narodniks), socialistas revolucionários, mencheviques.

Em 1907, em virtude dessa influência de massas crescente, na II Duma do governo imperial russo, uma espécie de Câmara dos Deputados do governo tzarista, os bolcheviques elegeram 18 deputados e na III Duma, 19 deputados.

Capa do livro de Sergei Malyshev, “Conselhos de Desempregados em São Petersburgo em 1906” sobre como os bolcheviques organizavam os trabalhadores pauperizados, sem emprego, sem tetos.

Uma das diferenças entre a direita tradicional e a direita fascista está no fato da segunda se apoiar na mobilização de massas para sob um populismo reacionário radicalizar a defesa dos interesses do grande capital contra o comunismo e os setores mais vulneráveis da classe trabalhadora. Nessa escalada, a direita fascista está fazendo o que é consequente para o seu projeto de poder.

À sua maneira e com suas deformações, a direita fascista se apropria de alguns métodos (agitação, propaganda, trabalho de base, assistencialismo, defesa de algumas reformas sociais, núcleo de jovens, formação política, ideológica e espiritual ou religiosa, cineclubes, manifestações de rua, passeatas, carreatas, acampamentos, piquetes, barricadas, instituições de reabilitação,...) que copiaram das esquerdas do tempo em que essa última fazia o seu dever de casa e estava com sua influência social em ascensão.

Atualmente em descenço, a esquerda segue cometendo erros. Sem um projeto estratégico e contaminada pelas ideologias neoliberais, nem reformismo faz mais, mal faz assistencialismo, para não falar em formação ideológica comunista, substituída por uma formação política aburguesada, em defesa da cidadania, políticas indenitárias, formação profissional.

Na disputa de segundo turno pelas prefeituras, a esquerda perdeu em São Paulo, Guarulhos, Diadema, Natal, Cuiabá, Porto Alegre e Caucaia. No ABC paulista, berço do PT, o processo de desindustrialização e desproletarização dos últimos 40 anos, não revertido pelos governos do PT, segue pondo água no moinho da direita e o partido já não governa a maioria das cidades desse que é o segundo maior polo industrial do país.

 

O dramático combate e vitória sobre o fascismo em Fortaleza

A esquerda cometeu muitos erros e repetiu muitos vícios em todas as partes. Por exemplo, um deles ocorreu no próprio processo de definição do candidato a prefeito de Fortaleza, quando a direção nacional e a máquina estatal controlada pela corrente majoritária do PT, a serviço da conciliação de classes, interveio para impor um candidato que não foi o da preferência da maioria da militância partidária e social.

As sequelas da crise da candidatura imposta, o estranhamento da militância de base fez com que a campanha de Evandro Leitão começasse bem fria no primeiro turno. A campanha pela vitória de Evandro assumiu um caráter de massa no final do primeiro turno e sobretudo no segundo turno, para o qual passaram André e Evando, com o candidato do PL na dianteira. Esse cenário político provocou o temor social da vitória do fascista na parte mais consciente da população trabalhadora e dos movimentos sociais cearenses.

Diante da catástrofe que os ameçava, que seria a vitória do candidato fascista escatológico, a militância de esquerda histórica da cidade engoliu seco a insatisfação e a campanha foi ganhando força apesar do candidato imposto pela direção PT.

Provavelmente, os erros cometidos pela direção partidária (apoiada no governador Elmano de Freitas, o ministro Camilo Santana e cia), provavelmente foram responsáveis pelo fato da disputa tornar-se tão apertada contra o candidato do PL. A disputa foi a mais acirrada dentre os segundo turnos pela Prefeitura de Fortaleza. Evandro obteve 716.133 votos contra 705.295 de André Fernandes — uma vantagem de 10.838 votos.

 

Contradições e divisões no bolsonarismo

O PL, partido de Bolsonaro, perdeu as eleições em capitais como Fortaleza, Belém, Manaus, Palmas, Belo Horizonte, João Pessoa e Goiânia. Resultados importantes para a desagregação e ampliação da crise interna do núcleo fascista que governou o executivo federal por quatro anos (2018-2022).

Todavia, não venceu o Centrão, mas a direita tradicional recauchutada, através do PSD, MDB ou outros, com métodos bolsonaristas naturalizados. Obteve uma grande votação o bolsonarismo 2.0, sem Bolsonaro (e que muitas vezes prefere escondê-lo nas campanhas) e que cada vez mais rivalizam com o ex-dirigente agora sem direitos políticos, como é o caso de Caiado (GO) e Tarcísio Freitas (SP)(CNN: Governadores de direita se impõem diante do bolsonarismo).

O governador de São Paulo, privatista radical, que fez disparar os assassinatos cometidos por policiais (G1: Mortes pela PM de SP aumentaram 71% no 1º semestre em 2024, segundo ano da gestão Tarcísio), na condição de governador repetiu, ele mesmo, na manhã da votação das eleições de segundo turno (27/09), um golpe de terrorismo midiático pior do que o que Marçal usou contra Boulos (o coach candidato usou laudo falso de Bouos de uso de cocaína) no dia da votação do primeiro turno (06/10), vinculando Boulos ao PCC (UOL: Tarcísio afirma sem provas que PCC orientou voto em Boulos).

Com os métodos decididos e radicais desses fascistas a luta política assume cada vez mais características de guerra. No caso, se apoiando no poder do efeito surpresa, de bombas de efeito moral, do cálculo do tempo necessário de sustentação de uma mentira compartilhada em massa e com a cumplicidade da justiça (eleitoral) dos ricos.

Os trabalhadores comunistas têm muito a aprender com esse processo eleitoral. Desse aprendizado depende o futuro da luta de classes no país, não só as eleições de 2026, quando haverá uma luta política ainda mais importante a ser travada no terreno da burguesia, mas de todas as lutas de agora para frente.

Um dos grandes aprendizados, realizado parcialmente pela campanha de Boulos e apenas tardiamente, no segundo turno (uma vez que o programa do candidato psolista ficou muito aquém dos interesses imediatos, internacionais e históricos dos da classe trabalhadora, ver crítica do PC a campanha de Guilherme Boulos), é que a disputa principal contra a direita está na mobilização de massas (a principal força da classe está em seu número) e na reconquista das ruas pela esquerda, como na caminhada do dia 26 de outubro na Rua Agusta. E essa tarefa parte da reorganização da esquerda, das atividades de frente única contra o fascismo, o capital (como o que o várias organizações comunistas constituíram na capital paulista através do Comitê Popular Antifascista), da formação ideológica comunista, na disputa pela consciência da classe nos locais de trabalho, estudo e moradia.

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