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Capitalismo: entre almas mortas e brilhantinas distópicas

Capitalismo: entre almas mortas e brilhantinas distópicas

O capitalismo está destruindo todas as possibilidades de amor genuíno, ou ao menos o cultivo de afetos afirmativos que nos arrastam de boa fé em direção ao inesperado para produzir novas alegrias significativas.

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Foto: https://cs.ilovevaquero.com/

 

Leonardo Lima Ribeiro

O capitalismo está destruindo todas as possibilidades de amor genuíno, ou ao menos o cultivo de afetos afirmativos que nos arrastam de boa fé em direção ao inesperado para produzir novas alegrias significativas. 

Cabe dizer que, estruturalmente, seu objetivo é sequestrar os indivíduos em masmorras invisíveis de sua lógica econômica para, mimeticamente, torna-los espectros de seus processos produtivos contemporâneos. 

O cárcere se faz pela internalização e exteriorização de práticas pelas quais as engrenagens são subjetivadas. Cada pessoa, sendo seccionada funcionalmente em dinâmicas complexas, está se esvaziando da capacidade de amar e produzir bons encontros que destoam do que está em questão. 

No lugar, o que restam são os avatares e as performances, a perfumaria esvaziada das camadas diversificadas de nós mesmos e o desempenho do labor que força o desprezo, como se estivéssemos tragados pelo fluxo de um jogo sádico de videogame. 

É preciso um imenso cuidado com isso, pois não é incomum tratarem do que aqui está em jogo como meio de liberdade incondicional, alforria ou quebra de ciclo de dependência de modos de se relacionar. Não há emancipação alguma quando somos despossuídos de latências humanistas e afetivas, como se fôssemos atores de um teatro estético-financeiro ultranarcísico: almas mortas com brilhantina distópica, mediada pelos movimentos dos indivíduos que se autoproduzem e se autoconsomem como mercadorias perfumadas. 

Primeiramente se trata, classicamente, de um trabalho de e sobre si para subir ao palco das aventuras das mercadorias, sob a pressão da matemática do salário que sequestra o tempo de vida e estripa o corpo e a mente. Ao mesmo tempo que deseja a si mesmo como mercadoria laboral, almeja transformar-se em objeto fluído no mercado do entretenimento e dos prazeres: uma espécie estética do trabalhador/consumidor de si proativo pronto para metarmofosear-se continuamente em um penduricalho do sistema dos prazeres. O consumo produtivo da esfera do trabalho do indivíduo sobre si mesmo e mediante a lógica da exploração se expressa também como produção estética de si para consumo próprio fora do trabalho. 

Assim, os pares giram em meio ao jogo diversionista, tal como se bordejassem seus próprios interesses. Um indivíduo satélite psicótico e ironicamente tutelado precisa de plateia, ou ao menos acreditar fantasmaticamente que ela existe, tal como um feitiço que reforce a si mesmo e seu palco.

A barbárie também se expressa nestes termos: nos despossuírmos de nós mesmos perante o autoconsumo produtivo capitalista produz não apenas o autoesvaziamento melancólico carnavalesco das performances, mas cria clivagens com grandes abismos entre o "eu artificial" e o "outro imaginado", os quais fabricam enormes distâncias em relação aos que poderíamos conhecer e amar, sem os códigos da lógica do dinheiro, da propriedade, do utilitarismo mais rasteiro e do baile das máscaras torpes. 

O que aqui está em jogo parece uma questão menor. Mas tem sua devida importância. Afinal de contas, organizar a classe trabalhadora pressupõe a crítica e a divergência radical em relação aos projetos necrófilos do capital e seus modos de colonizar os afetos como parte da abdução de nossos corpos e mentes.

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