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Quem somos, pelo que lutamos e em que circunstâncias

Quem somos, pelo que lutamos e em que circunstâncias

O Partido Comunista é uma organização política construída a partir da unidade entre três organizações marxistas. Após mais de um ano de aproximações, experiências comuns e debates, dentre os dias 31/06 a 02/07 de 2023, realizamos nosso I Congresso, fundindo um grupo marxista leninista e dois agrupamentos trotskistas. Dessa forma, a Liga Marxista, a Liga Comunista e a Liga Socialista se unificaram.

Nosso Congresso de fundação contou com a presença de camaradas do Pará, Ceará, Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. Portanto, oito Estados do país das regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Sul. Reuniu professores das redes públicas federais, estaduais, municipais e universitários; operários da construção civil; petroleiros; trabalhadores aposentados; comerciários; bancários; programadores e trabalhadores técnico-administrativos de universidades.

A atividade fundacional contou com a participação e/ou saudação de organizações comunistas da Argentina, Austrália, Coréia do Sul, EUA e Grã-Bretanha, bem como de organizações socialistas, quadros históricos e sindicais da luta da classe trabalhadora aos quais o novo PC busca honrar dando continuidade aos seus legados de luta.

A luta pela unidade dos comunistas

Nossa fusão só foi possível porque os agrupamentos envolvidos chegaram à convicção da necessidade de superar o divisionismo entre os comunistas (trotskismo/stalinismo/maoísmo), uma cisma estéril que na atualidade só favorece ao capitalismo, enquanto o imperialismo vai destruindo a humanidade e o próprio planeta.

Ainda que tenha cumprido seu papel histórico, na luta contra o sectarismo do 6º Congresso da Internacional Comunista que se opôs à frente única antifascista e permitiu a ascensão do nazismo na Alemanha; na luta contra a política oportunista de Dimitrov do 7º Congresso da Internacional Comunista, de defesa das frentes populares, na luta contra a liquidação por decreto da própria Internacional Comunista em plena II Guerra Mundial, hoje essa divisão cumpre uma função contrarrevolucionária.

A prova de que hoje essa divisão é benéfica aos nossos inimigos de classe e prejudicial ao explorados e oprimidos do mundo está no fato de que a maioria absoluta das organizações que se reivindicam comunistas, sejam elas stalinistas, maoístas ou trotskistas se perfilam objetivamente em favor da OTAN no principal conflito bélico da atualidade. Seja diretamente apoiando aos ucronazis de Kiev, capitulando a propaganda russófoba do imperialismo, e reivindicando armas mais letais e avançadas da OTAN, seja indiretamente, com uma verborragia pretensamente esquerdista de duplo derrotismo “contra a guerra dos capitalistas” ou sob a justificativa de que a Rússia atual seria imperialista, que nada tem a ver com o legado teórico leninista ou da Internacional Comunista, pseudo-marxistas de todas as colorações se alistaram no batalhão do exército midiático da esquerda-OTAN.

Na verdade, a melhor política que o imperialismo pode ter no seio da esquerda não é o apoio direto à OTAN, mas o nem Rússia, nem OTAN, que neutraliza efetivamente a luta anti-imperialista dentro do movimento operário. Uma vez que a esquerda contemporânea e ocidental não intervém efetiva e diretamente na guerra, não promove boicotes, não tem batalhões militares, não tem penetrado militantes entre os soldados, como tinha na II Guerra Mundial, o duplo derrotismo é objetivamente neutralidade e isso é a neutralização de todo protesto social contra a ofensiva da OTAN no ocidente dominado por ela, sendo que para justificar essa política demonizam Putin e caracterizam a Rússia como igualmente imperialista.

Nadando contra essa divisão miserável e obsoleta, mas funcional aos inimigos, nossa unidade se consolida “na análise concreta da situação concreta [que] é a alma viva, a essência do marxismo.” (Lenin). Análise que é fundamental para construção de um programa revolucionário sob o método do materialismo histórico e dialético, instrumento essencial da luta da classe trabalhadora por sua emancipação. Nesse processo, estamos forjando uma organização que não seja nem oportunista, nem sectária, apenas e tão somente parte da construção no Brasil de um partido mundial para a revolução socialista.

Socialismo ou Barbárie e a luta por uma nova Internacional Comunista, hoje.

A única saída para a classe trabalhadora é sua organização e mobilização na luta contra o capitalismo e sua política de ataques contra os trabalhadores. Mais do que nunca estamos diante da máxima de Rosa Luxemburgo, “socialismo ou barbárie”.

Todavia, se e enquanto o socialismo não avança, a barbárie avança. A última revolução socialista vitoriosa, ou seja, que expropriou ao conjunto da burguesia de um estado nacional, ocorreu com a vitória do Vietnã na guerra contra os EUA em 1975. Depois, o imperialismo se recuperou com uma contraofensiva através do neoliberalismo, da globalização e de uma nova divisão internacional do trabalho, que teve como experimento de ensaio a ditadura de Pinochet e os governos de Thatcher (Grã-Bretanha) e Reagan (EUA). Dessa ofensiva resultou a guerra dos anos 1980 no Afeganistão contra a URSS, seguida de uma derrota histórica para a classe trabalhadora que foi o fim dos Estados e regimes da URSS e do Leste Europeu, onde a burguesia havia sido expropriada como classe. Mas, entre 1989 e 1993, as contradições internas daqueles governos somadas a ofensiva imperialista resultou na restauração do capitalismo e a incorporação de grande parte dos países do Leste Europeu à OTAN, enquanto a Rússia foi submetida à “doutrina de choque” que teve como referência a política econômica do Chile de Pinochet.

Esse recuo do processo anticapitalista promoveu o imperialismo e dialeticamente promoveu deu declínio, de forma mais evidente a partir da crise de 2008. Assim, nós somos obrigados a reconhecer que a decadência do sistema imperialista já impõe a humanidade vários fenômenos e traços avançados da barbárie capitalista como a destruição do ambiente planetário, o encarceramento em massa, o genocídio da juventude negra pelos distintos aparatos policiais e para-policiais (milícias e máfias), legiões de lumpemproletários vivendo nas ruas, centenas de campos de refugiados temporários e permanentes pelo mundo, exércitos de mercenários terroristas a serviço de corporações imperialistas e, sobretudo, a volta e o crescimento de novos tipos de nazi-fascismos.

Para contrapor-se a essas avançadas manifestações da barbárie, produtos da decadência do sistema mundial do imperialismo é necessária uma nova onda de revoluções sociais anti-imperialistas e anticapitalistas. Talvez uma quarta onda revolucionária, levando em conta que a primeira onda resultou na Comuna de Paris (1871); a segunda, a revolução bolchevique (1917), uma das consequências da I Guerra Mundial, quando ocorreu a “ruptura da cadeia imperialista no seu elo mais fraco” (Lenin); a terceira onda resultou da derrota do nazi-fascismo imperialista na II Guerra Mundial, dando origem a uma constelação de revoluções sociais e expropriações do capital em dezenas de países oprimidos (Albânia, quase todo o Leste Europeu, China, Iugoslávia, Coréia do Norte, Cuba, Vietnã,...) quando a retração do domínio da propriedade privada dos meios de produção chegou a alcançar uma quantidade de nações onde residiam 1/3 da população planetária. Essa situação se prolongou por 40 anos, até a penúltima década do século XX, no final dos anos 1980.

A barbárie capitalista que vivemos é produto combinado do refluxo dessa onda revolucionária com as manifestações de apodrecimento do tecido social decorrentes da decadência imperialista. Essa decrepitude colocou o planeta na esteira de uma nova guerra mundial. Uma nova Internacional Comunista é necessária para impulsionar uma nova onda revolucionária em meio a escalada da nova guerra e o novo Partido Comunista se põe a serviço da construção dessa nova Internacional.

As guerras imperialistas, principalmente desenvolvida hoje na Ucrânia, mostra que enquanto a juventude trabalhadora é feita de bucha de canhão para atender aos interesses do imperialismo estadunidense e europeu, os ricos aumentam suas fortunas e apostam cada vez mais na luta pela redivisão do mundo. Uma nova geopolítica está em questão e se necessário, os imperialistas podem levá-la até mesmo a uma 3ª Guerra Mundial, inclusive com a ameaça da utilização de armas nucleares.

Enquanto isso, reações anti-imperialistas se desenvolvem como na própria guerra na Ucrânia, em que a Rússia enfrenta o imperialismo estadunidense e europeu. Na África, as rebeliões sociais conduzidas por militares golpeiam e derrubam governos fantoches da OTAN em vários países principalmente contra o imperialismo francês, que mantinha 14 países sob o tacão de suas bases militares, multinacionais e do Banco Central francês.

Curiosamente, a resistência ao imperialismo é dirigida pela Rússia e pela China, nações que realizam revoluções sociais, respectivamente em 1917 e 1949, cultivaram políticas de soberania energéticas e militares e planificação econômica por várias décadas, que após terem restaurado o capitalismo na década neoliberal dos anos 1990, reagiram a rapina imperialista que sofreram nesse processo. Rússia e China uniram forças entre si e retomando medidas de planificação e soberania que os converteu em Estados capitalistas com uma configuração diferente das “democracias” liberais imperialistas ocidentais. São hoje um núcleo centrípeto de várias nações capitalistas oprimidas e não capitalistas como Cuba e Coreia do Norte. Esse bloco eurásico constituiu um banco próprio para rivalizar com o FMI e o Banco Mundial e vários fóruns internacionais, sendo os BRICS o principal deles.

Política e economicamente o bloco dos BRICS se fortalece, passando a ter mais do que o dobro de países que já tinha, agora com a entrada da Argentina, Egito, Irã, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes. Dessa forma, passará a ter quase metade da produção mundial de petróleo, 46% da população e quase 36% do PIB global, enquanto mais da metade dos demais países do globo já se alistaram para um terceiro estágio de ampliação do bloco. O bloco de nações hegemônicas, o G-7 do imperialismo sente que ficou isolado e em minoria com essa reorganização dos países oprimidos em um bloco adversário e reage com as armas que dispõe, golpes de estado, bloqueios e guerras, escalando para a regionalização e mundialização dos conflitos.

Nesse processo de redivisão do mundo e de provável enfraquecimento do imperialismo, surgem as possiblidades revolucionárias da classe trabalhadora, apoiando toda e qualquer luta anti-imperialista, mas com independência política de classe em relação aos governos nacionalistas dos BRICS e cia.

Uma das reações do capital são os movimentos de extrema-direita em muitos países, como Brasil, Argentina, Grécia, Itália, EUA, Alemanha, França, Suécia, Polônia, Ucrânia, entre outros.

“Venceremos se não tivermos desaprendido a aprender!”

Portando, o Partido Comunista, constituído por trabalhadores marxistas, luta contra a ideia que a ideologia imperialista decadente quer nos convencer de um futuro distopico para a humanidade. Temos como ponto de partida a experiência dos erros e acertos de todas os movimentos revolucionários comunistas anteriores da história, em suas vitórias e derrotas, na guerra de classe dos trabalhadores negros escravizados do Quilombo de Palmares, nas comunidades coletivistas de Canudos, nas greves dos metalúrgicos do ABC paulista, nas atuais experiências do MST, da OPA e de outros movimentos da luta pela terra.  

Mais uma vez lembrando a camarada Rosa Luxemburgo: “Não estamos perdidos. Ao contrário, venceremos se não tivermos desaprendido a aprender. ” Aprendemos cotidianamente com a realidade atual, com todas suas contradições, diante de tal conjuntura adversa, hegemonizada pelo refluxo das lutas proletárias, pela profunda burocratização das entidades sindicais, pela crise geracional da luta dos trabalhadores, por golpes de Estado, lawfare, guerras híbridas, contrarrevoluções e guerras, defendemos a construção de células comunistas nos locais de trabalho, estudo e moradia.

Defendemos a mobilização e organização da classe trabalhadora contra o capitalismo, as medidas neoliberais e para apoiar toda e qualquer ação ou medida anti-imperialista onde quer que ocorra. Apoiamos governos progressistas (Nicarágua, Venezuela, Bolívia) contra os golpes de extrema-direita. Ao mesmo tempo em que reivindicamos a frente única contra o imperialismo e contra o fascismo contemporâneo, exigimos aos governos que atendam as reivindicações imediatas e transitórias da classe trabalhadora.

Sem esperar que qualquer tipo de governo burguês realize de forma consequente os interesses estruturais do proletariado, seguimos na luta estratégica e permanente pela revolução socialista mundial, pela tomada do poder pelos produtores associados, pela ditadura revolucionária do proletariado, o verdadeiro governo dos trabalhadores.

Por uma sociedade solidária, justa, proletariamente democrática, uma sociedade socialista!

Viva a luta da Classe Trabalhadora!

Venha discutir conosco, junte-se a nós, na luta e na construção do Partido Comunista e de uma nova Internacional Comunista!

 

 secretaria@partidocomunista.org
Junte-se a nós!