Rio Grande do Sul: o fogo e a fumaça são produto do capital e do latifúndio
Mais da metade da América do Sul está coberta pela fumaça dos inúmeros focos incêndios que destroem a Amazônia, o Cerrado o Pantanal, o interior de São Paulo, parte da Bolívia e norte do Paraguai. Comprovada a culpa do latifundiário, que o mesmo indenize as vítimas, se exproprie toda a propriedade, o mesmo para as mineradoras. As terras sejam demarcadas, se forem em área dos povos originários, a parte que não for, seja feita, a reforma agrária.
Porto Alegre-RS vítima da fumaça das queimadas: neblina cinza e Sol vermelho ( Foto: Rosinara Ferreira)
Joana Boaventura
Antigamente, em tempos muito distantes, povos originários usavam sinais de fumaça para se comunicar.
Hoje, “os homens bons” do Agro-tóxico usam a “fumaça” para acabar com os indesejáveis, matar os rebeldes, filhos da Mãe Terra e para dizer a todos nós, o quanto são poderosos.
Mais da metade da América do Sul está coberta pela fumaça dos inúmeros focos incêndios que destroem a Amazônia, o Cerrado o Pantanal, o interior de São Paulo, parte da Bolívia e norte do Paraguai.
O Rio Grande do Sul está a quilômetros de distância dos focos de incêndio, no entanto, a fumaça provoca internações de crianças e idosos. O ar está irrespirável. Na semana passada, o sol aparecia como uma lua vermelha, encoberta por densa camada de fumaça.
O tempo era duplamente nublado. Quando veio a chuva, era uma água escura, carregada de partículas de fuligem.
O cenário anterior à frente fria, era de pouca umidade do ar, calor e bloqueio atmosférico, situação que foi agravada pelo reflexo das queimadas, o que fez com que alguns municípios atingissem AQI de 154, que reflete a péssima qualidade do ar, considerado extremamente insalubre quando entre 151 e 200.
Incêndios provocados fazem parte do jogo ou do jugo do capital.
Os latifundiários se dão bem nisso. Na sua desmedida ambição, querem mais terras para soja, para a cana de açúcar; para ganhar mais, para exportar mais, não se importam em matar mais.
As mineradoras, por sua vez querem extrair mais minérios, por aí vai o caminho do fogo e da destruição.
Populações indígenas, animais e flora são destruídas, terras invadidas, homens comuns são presos, acusados dessas atrocidades, enquanto que, os verdadeiros criminosos se escondem em belas propriedades, nas grandes cidades e capitais do Brasil, sob um manto de proteção do Congresso mais retrógrado já eleito.
As violações das áreas indígenas e quilombolas, as mortes, o fogo provocado são recorrentes. Estão nos noticiários. Ocorrem o tempo todo.
Por que ocorre? Quem são os responsáveis? Quem os investiga? Os culpados são presos, punidos?
Não são perguntas fáceis de responder.
Os responsáveis são grandes produtores rurais, ou grandes mineradoras interessadas em terras de povos indígenas com solos ricos em jazidas minerais; ou no primeiro caso, com o intuito de aumentar as fronteiras agrícolas, diante do crescente mercado Internacional.
Ocorrem com frequência, porque o dinheiro os coloca acima da lei, as investigações não chegam ao fundo, são sugadas pela burocracia, pela chantagem e pelos mecanismos do poder financeiro e político. Os endinheirados não são presos aqui e em nenhum lugar deste mundo, sempre encontram uma brecha, um acordo e voltam a cometer os crimes de antes.
São presos, os pobres, os ignorantes, os peões.
Esses homens e mulheres do agronegócio ou do agro-tóxico estão acima da lei, assim como as mineradoras. Basta ver Mariana e Brumadinho.
Então o que fazer? Exigir que a lei se cumpra.
Comprovada a culpa do latifundiário, que o mesmo indenize as vítimas, se exproprie toda a propriedade, o mesmo para as mineradoras. As terras sejam demarcadas, se forem em área dos povos originários, a parte que não for, seja feita, a reforma agrária.
Da mesma forma com as mineradoras: que as concessões sejam retiradas, que as minas sejam estatizadas e as terras devolvidas à União, ou aos povos indígenas, seus legítimos donos, com as devidas indenizações.
Em ambos os casos, os criminosos devem cumprir pena na prisão, ressarcir os cofres públicos e as vítimas pelos prejuízos e recuperar as áreas atingidas e degradadas, rapidamente.
Há que ter vontade política e senso de justiça para resolver esses problemas, o Estado brasileiro não pode ficar refém das grandes mineradoras e do agro, ou será a barbárie desenfreada.