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Sobre a pobreza no capitalismo

A pobreza no capitalismo assume uma forma específica associada à insegurança e à indignidade que a torna particularmente insuportável.

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Foto: Prensa Latina

 

A pobreza sob o capitalismo é completamente diferente da pobreza em tempos pré-capitalistas. Mesmo que, para finalidades estatísticas, a pobreza seja definida como a falta de acesso a um conjunto de valores de uso essenciais para viver, independentemente do modo de produção, o fato é que sob o capitalismo essa falta está enredada num conjunto de relações sociais que são diferentes das anteriores. A pobreza no capitalismo assume uma forma específica associada à insegurança e à indignidade que a torna particularmente insuportável.

A pobreza capitalista apresenta, grosso modo, quatro características aproximadas.  

A primeira decorre da inviolabilidade dos contratos, o que significa que, independentemente das suas condições, os pobres têm de pagar o que contrataram, o que conduz a uma perda de bens ou à miséria.

A segunda caraterística da pobreza capitalista é o fato de ser vivida por indivíduos, quer se trate de pessoas individuais ou de agregados familiares. No capitalismo, porém, quando as comunidades se desagregam devido à lógica inexorável do sistema, e o indivíduo emerge como a categoria econômica primária, este indivíduo também sofre privações em isolamento.

As tradições não marxistas da teoria econômica não conseguem ver esta mudança básica porque estão desprovidas de qualquer sentido da história. Marx acusou a economia clássica desta cegueira em relação à história: o indivíduo, que surgiu apenas num determinado momento da história, foi considerado por ela como tendo existido desde sempre. As correntes burguesa na economia não compreendem, portanto, o contraste entre a pobreza capitalista e a pobreza pré-capitalista, a primeira vivida por indivíduos isolados e alienados e a segunda referindo-se apenas à privação sofrida no seio de uma comunidade e em consequência numa partilha da privação. 

O fato de o capitalismo ser caracterizado por indivíduos alienados (até formarem  organizações ou sindicatos que os reúnem em lutas comuns contra o sistema) e de serem estes indivíduos que vivem a pobreza, dá à pobreza uma dimensão adicional; não é apenas a falta de acesso a um conjunto de valores de uso que constitui a pobreza capitalista, mas também um trauma psicológico que acompanha esta falta de acesso.

Isso torna-se mais claro quando analisamos a terceira caraterística da pobreza capitalista. Esta surge por duas razões: 1) os baixos salários daqueles trabalhadores empregados, e 2) a ausência de emprego. É o exército de reserva do trabalho que é particularmente afligido pela pobreza. De fato, em economias periféricas, onde o "empregado" e os "desempregado" não são duas categorias distintas, mas em que a maior parte dos trabalhadores, salvo uma pequena minoria, está desempregada vários dias por semana ou várias horas por dia, o trauma psicológico associado à pobreza, decorrente da incapacidade de encontrar emprego, é ainda mais generalizado. A falta de emprego aparece como um fracasso pessoal por parte do indivíduo, como algo que lhe retira auto-estima, além de provocar a falta de acesso a um determinado conjunto de valores de uso.

A quarta caraterística da pobreza capitalista é a opacidade para aqueles que a sofrem dos fatores que a causam. A razão pela qual uma pessoa permanece desempregada e, portanto, pobre em condições capitalistas permanece um mistério para a própria pessoa. Do mesmo modo, a razão pela qual os preços sobem subitamente, empurrando mais pessoas para a pobreza, continua a ser um mistério para os afectados.

 

Fonte: https://peoplesdemocracy.in/2024/0630_pd/specific-form-poverty-under-capitalism

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