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Israel: Netanyahu na corda bamba? | O Neonazismo 2.0

Israel: Netanyahu na corda bamba? | O Neonazismo 2.0

Abaixo publicamos a transcrição sintetizada e corrigida do Programa Emancipação do Trabalho do dia 13 de agosto de 2024.

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O programa completo poderá ser assistido clicando aqui: Israel: Netanyahu na corda bamba? | O Neonazismo 2.0

 

Emancipação do Trabalho:

No programa de hoje, temos dois temas Netanyahu na corda bamba? a crise do governo sionista e o Neonazismo 2.0. Para tratar deles temos dois camaradas na bancada: Fábio Sobral e Germán Motta.

Fábio está falando desde o Ceará, no Nordeste do Brasil, e o Germán do extremo oposto, ou quase, mas pelo menos a mais de 5.000 km de distância, de Buenos Aires.

O Fábio vai abordar o tema central da live, que é a crise que se instaura dentro do governo Netanyahu, justamente depois que o Netanyahu fez o giro pelos Estados Unidos e, nos parece, obteve o salvo-conduto para alastrar, escalar e ampliar a guerra, com a execução dos dirigentes do Hamas e do Hezbollah.

A execução do dirigente do Hamas foi exatamente dentro do Irã, o que provoca e encadeia não só uma crise com essas organizações guerrilheiras, mas contra o próprio Irã, que é o núcleo do eixo da resistência, que inclui também os Houthis e várias outras forças que envolvem guerrilheiros no Iraque.

O Hezbollah também, assim como outras organizações, inclusive as que fizeram acordo recentemente na China pela unidade contra o genocídio que está sendo realizado basicamente há um ano. O Fábio vai tratar da crise que se instaurou a partir de uma suspeita de uma conversa entre o ministro da Defesa, Gallant, e parlamentares da extrema direita que aconteceu ontem (12/agosto), e essa reunião foi vazada.

O Germán vai tratar de um fenômeno que é colateral a isso, mas é bem mais amplo. Não se trata só da sucessão e das disputas dentro de Israel, o que já não é pouca coisa, porque Israel hoje é a vanguarda do imperialismo no Ocidente Asiático.

O Germán vai tratar de um fenômeno que está em crescimento, que nós denominamos neonazismo 2.0. Queria esclarecer que isso não se trata de que as expressões da extrema direita, as expressões nazistas e fascistas de hoje seriam um fenômeno 2.0 em relação ao nazismo e ao fascismo clássico da Segunda Guerra Mundial. Estamos falando já de um segundo governo Trump ou um segundo governo Bolsonaro, um segundo governo Bolsonaro ou um governo de Tarcísio em São Paulo, ou um pós Milei, seria uma versão mais aprimorada, mais sofisticada e não menos radical que a primeira versão desses governos de extrema direita ou, como preferimos chamar, governos neonazistas.

Enquanto o Fábio vai falando, vamos apresentar também algumas reportagens da própria imprensa israelense para ilustrar o tema.

 

Fábio Sobral:

Bem, boa noite para quem nos assiste à noite. Boa tarde, bom dia. Boa noite ao camarada Germán. Agradeço sempre poder ter esse espaço.

Nós temos uma situação bastante complicada aí no Oriente Médio, ou Ásia Ocidental, como disse o Érico. É uma situação que pode explodir numa guerra de largas proporções, em que Israel, dirigido por Netanyahu, chegou, na verdade, à sua consequência lógica. Ao longo dos anos, houve um processo de radicalização de extrema direita genocida em grande parte da população. Isso se traduziu em governos cada vez mais agressivos contra palestinos e contra outros povos.

Basta dizer a participação de Israel no ataque à Armênia, junto com o Azerbaijão e a Turquia. Basta dizer da participação de soldados israelenses nas manifestações contra o antigo governo do Chile, né, o Piñera, em que soldados israelenses compuseram as tropas de choque chilenas, inclusive especializadas em atirar no olho das pessoas. Essa prática inclusive se difundiu na América do Sul, aqui no Brasil houve muitos protestos policiais em que isso foi feito.

Então, o governo israelense se tornou essa tropa de choque da extrema direita mundial. A participação de, no mínimo, 2.000 soldados israelenses, de forma não declarada, nas tropas ucranianas atualmente e o apoio ao Estado Islâmico na Síria. Israel foi sendo essa consequência lógica que é a destruição de todos os grupos que se oponham aos governos imperialistas.

E também aos que ameaçam o controle das grandes companhias de petróleo naquela região. Israel foi se tornando essa tropa de choque, como eu falei, e houve o conflito com o Hamas e com outras organizações, como a Frente de Libertação da Palestina, né, e a Jihad Islâmica, que promoveram um ataque a Israel no ano passado. Israel reage enxergando uma possibilidade, uma oportunidade histórica de massacrar de tal forma o povo palestino que ele pedisse para sair de Israel ou da Palestina ocupada, e eles usassem a mesma narrativa que usaram em 1948: "Não, os palestinos foram embora, nós não tomamos nada, eles se levantaram e foram embora, abandonaram a terra", o que não é verdade, a gente já sabe, né? Os palestinos inclusive chamam isso de Nakba, o grande massacre promovido em 1948, bem com apoio britânico e americano.

Israel foi levado a essa consequência lógica, ao seu governo mais perigoso de todos os tempos, que é o governo Netanyahu, que tem forte assento extremista religioso, a ponto de declarar que só ficariam em Israel judeus, não somente israelenses, mas judeus. Seria um estado judeu, de ligação com um grupo religioso extremista muito forte nos Estados Unidos, com a influência de um dos rabinos que vieram do Leste Europeu.

Agora esqueci o nome do rabino que faleceu há algum tempo. Sempre no YouTube a gente encontra vídeos dele orientando, dizendo que Netanyahu não está fazendo o suficiente para construir a Grande Israel. Então, o objetivo de Israel é construir a Grande Israel, atravessando a Jordânia e chegando às fronteiras dos rios da Mesopotâmia, ou Iraque hoje em dia. Então, a própria Jordânia, que apoia constantemente Israel, seria varrida do mapa, tomariam grande parte de todo o território do Líbano e grande parte do território da Síria, como hoje já ocupam as colinas do Golã. Tomariam as terras de Gaza e iriam até o Sinai, tomariam o Sinai novamente do Egito, que foi devolvido ao Egito nos acordos de Camp David.

Então, o projeto da Grande Israel é o que está na cabeça do Netanyahu, claro que com objetivos práticos mais cotidianos, que seria a continuidade dele à frente do governo de Israel. Isso é um tema que o Germán pode tratar também, né?

O discurso do Trump que disse para os extremistas cristãos nos Estados Unidos que eles deveriam ir votar, que seria a última vez que eles precisariam votar. Trump planeja um golpe de estado nos Estados Unidos, como planejou da outra vez e deu errado, e ele pretende, dessa vez, não falhar.

Netanyahu tem em vista esse mesmo objetivo, a sua perpetuação no governo israelense como primeiro-ministro. Para isso, ele pensava, baseado nesse processo de radicalização de direita da sociedade israelense, foi sendo construída uma ideia mitológica de que as forças armadas de Israel seriam invencíveis por causa da sua tecnologia e do seu preparo e até porque toda a população de Israel, masculina e feminina, é obrigada a servir às forças armadas por 3 anos, ou seja, seria o que se chama um soldado de primeira linha.

Então, surge esse efeito, essa ideia, essa suposição, esse mito da invencibilidade de Israel, associado aos seus armamentos, que seriam essencialmente o tanque Merkava, que é traduzido do hebraico como "carruagem", ela tem até um sentido bíblico, né, por causa de uma profecia lá atrás, de um dos livros sagrados do Judaísmo. Então, o Merkava seria o tanque invencível.

O Iron Dome, o sistema de proteção antimísseis, com a Flecha de Davi, um míssil de maior potência, os mísseis Patriot americanos, que seriam de médio poderio e enfrentariam pequenos mísseis com os Patriot, com mísseis mais potentes e a Flecha de Davi com míssil mais potente ainda, inclusive mísseis intercontinentais. Associado a isso, o jato F-15, ou Águia americano, um jato bombardeiro, um caça bombardeiro, o jato F-16, de bombardeio de média altitude, também americano, e agora o caça F-35, supostamente invisível aos radares, também americano.

Então, há essa suposição da superioridade dos soldados de Israel, a superioridade dos tanques de Israel, a superioridade dos mísseis de Israel, a superioridade dos caças comprados dos Estados Unidos. Então, todos esses mitos subiram à cabeça de Netanyahu. Ele promove um ataque a Gaza com objetivos genocidas...

Eles perceberam que não é possível vencer o Hamas. Se for estabelecida uma guerra contra o Hezbollah, será um desastre completo.

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O norte de Israel, ou palestina ocupada, já está vazio. Se fala em mais de 80 a 100 mil colonos deslocados de lá. Já não há produção agrícola e há um colapso dessa região do norte de Israel. Mais de 600 mil emigraram de Israel para morar em outros países, o que representa um peso econômico enorme na economia israelense. Assim, há um colapso econômico iminente e um colapso político iminente.

Além disso, o Irã está preparando uma resposta ao assassinato de Ismail Haniyeh, ex-líder do Hamas, falecido em proximidades da capital iraniana, Teerã. Israel preparou uma operação com helicópteros para tomar uma região dos Huthis no Estreito de Bab al-Mandeb. De um lado do estreito está o Djibuti, onde a China tem uma base naval, e do outro lado está o Iémen, onde os Huthis controlam a parte oriental do estreito e atacam navios, inclusive navios militares americanos.

Não temos clareza se esses navios foram atingidos ou não; inclusive, o último porta-aviões dos Estados Unidos na região passou oito meses lá e depois teve que se retirar para reparos, alegando que havia permanecido muito tempo em alto-mar. Não sabemos se ele foi atingido, mas os Huthis afirmam ter atingido os israelenses.

Israel preparou uma operação com tropas especiais britânicas e americanas; alguns dizem que eram mercenários, provavelmente as tropas SAS britânicas e os Marines americanos. Essas tropas foram inseridas no Iémen de helicóptero e foram abatidas, resultando na morte de mais de 70 comandos. Isso foi uma repetição da Operação Eagle Claw, realizada em 1979, quando helicópteros americanos tentaram resgatar reféns da embaixada iraniana, resultando em um desastre na época do governo Jimmy Carter. Assim, houve uma repetição desse modelo de operação, que também resultou em fracasso.

Os Huthis foram provavelmente avisados por satélites iranianos; alguns afirmam que foram satélites russos. O coronel Douglas McGregor afirmou em uma entrevista ao juiz Napolitano, ex-ministro da Suprema Corte dos EUA, que os russos usaram satélites para informar que os Huthis seriam atacados. Isso indica que os russos se afastaram da direção do governo israelense. Os russos têm uma longa tradição de colaboração com Israel, mas se afastaram e se aproximaram mais do Irã. O fracasso da operação Eagle Claw 2 foi semelhante ao fracasso de 1979, que contribuiu para a derrota de Jimmy Carter nas eleições americanas.

Isso me lembra outras articulações, como você mencionou. O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu foi ao Congresso americano e foi aplaudido de pé 58 vezes por deputados e senadores, tanto democratas quanto republicanos. Ele não foi apenas para fazer um discurso, mas para ajustar a operação para matar o líder do Hamas.

Ao mesmo tempo, a extrema-direita do Partido Republicano percebeu uma oportunidade: o fracasso se aproxima. O fracasso pode ocorrer de várias formas: as tropas israelenses não conseguem combater as milícias populares iraquianas, não conseguem derrotar o Hezbollah libanês, a Síria atacou uma base americana no norte da Síria exigindo a retirada das tropas americanas, e Israel não consegue vencer o Hamas em Gaza nem conter os conflitos na Jordânia, mesmo com ataques pesados.

Portanto, em várias frentes, Israel vê o colapso se aproximar: colapso econômico, militar, político e ideológico. A União Europeia, percebendo o fracasso, está defendendo que ministros israelenses que defendem atos genocidas sejam presos se entrarem no território da União Europeia. Isso não é uma independência, mas uma ação deliberada sob orientação dos Estados Unidos. Os republicanos percebem uma oportunidade única: desmoralizar o governo Biden para que ele perca as eleições, assim como Jimmy Carter perdeu para Ronald Reagan em 1980. Eles também realizaram uma operação com helicópteros em que os soldados foram eliminados.

(30:09) Portanto, o colapso de Israel se tornou um trunfo para o Partido Republicano, que acredita que pode repor e reorganizar a situação internamente em Israel. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu está sendo manipulado pelo Partido Republicano, enquanto é apoiado inteiramente por Biden, que aprovou 3,5 bilhões de dólares em ajuda militar na semana passada.

No entanto, Netanyahu está sendo eliminado pelas duas principais forças políticas em Israel: o grupo ligado ao ministro da Defesa Yoav Gallant e o grupo de extrema-direita liderado por Itamar Ben-Gvir. Eles não têm acordo sobre a guerra em Gaza nem sobre o conflito com o Hezbollah. Ben-Gvir defende a "guerra total", uma expressão criada por Joseph Goebbels em 1942-43, que afirma a necessidade de uma guerra total. Assim, Israel repete até slogans nazistas.

O meu prognóstico é de que a guerra é quase inevitável. O Hezbollah tem contido os 30 mísseis como um aviso de que Israel está vulnerável. Um ataque iraniano, com mísseis melhores, atingiria profundamente Israel. Israel sustenta-se no único mito que resta, que é a ameaça de usar suas 100 a 120 bombas nucleares contra seus inimigos. No entanto, esse é um mito perigoso e falso, pois mísseis iranianos poderiam atingir a usina nuclear de Israel.

(33:41) Um ataque a Dimona tornaria Israel inabitável, o que os palestinos não querem, nem os iranianos, porque os próprios palestinos consideram aquela sua terra. Mas, em último caso, a usina de Dimona seria destruída, e a vingança seria feita. Ao mesmo tempo, não sabemos se o Irã possui armas nucleares.

Minha hipótese é que eles não produziram armas nucleares internamente, mas nada garante que não tenham comprado armas nucleares da Coreia do Norte. Não há garantia de que o caminho da Coreia do Norte até o Irã não possa ser feito através da China, sem a detecção dos órgãos internacionais de energia atômica. Houve uma declaração de um ministro da Defesa da Guarda Revolucionária, que disse que, se Israel ultrapassar o limite da preservação da sociedade iraniana, eles também desaparecerão do mapa. Essas frases soltas nunca são ditas ao acaso. O blefe vai até certa parte, mas há um limite.

 

Emancipação do Trabalho

(34:21) Agradecemos por nos brindar com tantas informações transversais e por fazer a ligação entre os temas. O tema desta live, para quem entrou depois ou não percebeu, é justamente a crise do governo Netanyahu. O Fábio explicou que a crise ocorre porque o governo não consegue entregar o que prometeu: a vitória absoluta sobre a resistência palestina, o Hamas, e menos ainda poderia triunfar sobre o Hezbollah.

A crise está sendo denunciada por outros atores da guerra sionista, pois o ministro da Defesa disse que acabar com a resistência e recapturar os reféns não é mais possível. O Fábio descreveu por que isso não é mais possível e por que a resistência palestina e o eixo da resistência (Palestina, Irã, Líbano) cria uma crise política, gerando uma crise palaciana. Isso pode levar Netanyahu da presidência para a cadeia, como havia sido prometido antes do início da guerra.

(36:06) O Fábio detalhou como a resistência e as manifestações multitudinárias contra o genocídio criam uma crise política na cúpula que não consegue avançar. Agora, há uma crise que pode acabar com a presidência de Netanyahu, como já havia sido prometido.

**(37:35)** O German agora vai falar, e eu queria agradecer a presença de Andreia Destefani, Leonardo Lima Ribeiro, Rodrigo Ramos, e Frederico Costa, que não esteve aqui hoje, mas destacou que essa é uma temática interessante. O Fredy vai voltar na próxima semana, então tenham paciência. O Walter Souza Freire também está aqui. Agora, vou ler as perguntas para o Sobral depois da exposição do Germa. O Germa vai tratar do segundo momento dos governos e movimentos neonazistas que temos visto neste século. Germa, sem mais delongas, a palavra é sua.

 

German Motta

Sim, perfeitamente. Vou falar agora. Primeiro, Fábio, você mencionou um ponto relevante sobre a extrema-direita em Israel e a possibilidade de influência de governos ultradireitistas latino-americanos. Estamos diante de uma segunda onda de neofascismo na América Latina, após a primeira onda, representada por Bolsonaro no Brasil, e agora na Argentina. Essa nova onda tem características diferentes: é mais cultural, menos bizarra do que a anterior, e é mais repressiva. A segunda onda também tem um governo em São Paulo e uma vice-presidente na Argentina, refletindo uma tendência avançada que pode se concretizar.

(41:15) Essa segunda onda é uma continuação do neofascismo, refletindo a necessidade do capital financeiro de aprofundar ajustes neoliberais. A tendência é de se tornar diretamente neofascista, como demonstrado por um governador em São Paulo e uma vice-presidente na Argentina. Isso reflete uma tendência em curso e que pode se expandir pelo continente latino-americano. A tendência anterior também está se preparando nesse sentido.

Esse é o contexto geral que estamos vivendo no continente. A tendência é relevante e, se concretizada ou não, é algo a ser observado.

 

Emancipação do Trabalho

**(43:10)** Obrigado, German, por sua exposição sintética e sistemática. Queria perguntar quais são os três principais traços da segunda onda neofascista, menos bizarros do ponto de vista cultural, mais repressivos, e como esses traços se relacionam com a construção de um senso comum pelos meios de comunicação e setores das camadas médias urbanas.

**(43:54)** O Leonardo diz que sua voz está ótima e compreensível. O Rodrigo pergunta se poderia falar sobre a escatologia judaica do terceiro templo de Salomão. Fábio, você prefere responder de uma vez ou uma por uma?

 

Fábio Sobral

**(44:30)** Respondo uma por uma, pois estou com problemas de memória e posso esquecer alguma pergunta. Quero mandar um abraço para o Rodrigo, Leonardo, Andreia e Walter Souza Freire.

**(45:22)** A escatologia judaica, para quem não sabe, é um termo religioso que descreve o fim ou o ápice de uma religião. A escatologia judaica interpretada por extremistas não é a visão tradicional dos sábios judeus. Essa teoria defende que é preciso criar um Grande Israel, recuperando todo o território histórico do povo judeu, o que nunca aconteceu historicamente. A escatologia diz que é necessário reconstruir o Grande Israel para que finalmente venha o Messias.

Os judeus acreditam em dois Messias: o Messias de Davi e o Messias de José. Alguns grupos de judeus acreditam que o Messias deve surgir antes de levar o povo judeu para lá, e consideram a ida dos judeus para a Palestina como uma coisa errada. Essa interpretação foi apoiada por profecias de grupos evangélicos neopentecostais

(47:54) Os americanos norte-americanos, Estados Unidos, baseiam-se também em profecias judaicas que preveem uma grande guerra final no mundo, chamada de "guerra de Gog contra Magog". Nessa guerra, Gog e Magog seriam duas nações e a guerra destruiria o mundo, fazendo com que o Messias aparecesse para salvar a humanidade. Jesus reapareceria uma segunda vez para salvar a humanidade. Então, estamos lidando com indivíduos totalmente extremistas que desejam a destruição do mundo, tanto os extremistas judeus quanto os extremistas católicos, que inclusive desejam a destruição dos próprios judeus, pois acreditam que isso permitiria a vinda de Jesus na chamada porta de Damasco em Jerusalém.

Essas são as escatologias predominantes. A principal escatologia dominante é a neopentecostal. Por isso, eles dão tanto apoio a Israel, não porque acreditam em Israel, mas porque desejam a extinção do povo judeu nessa guerra. Finalmente, os judeus seriam varridos do mapa, como uma forma de solução final nazista. Os grupos judeus se aproveitam disso, dizendo que estão enganando os outros e que, no final, seu lado da profecia vencerá. Assim, estamos entre dois grupos de extremistas – não vou chamá-los de loucos, porque tenho grande respeito pelos loucos, mas de grandes extremistas. Esses dois grupos são absolutamente desumanos, sem nenhum respeito pela humanidade. Não sei se a resposta foi clara, mas falar sobre esses dois bandos de fanáticos é confuso e difícil; não se pode explicar completamente a racionalidade de duas concepções tão desumanas e irracionais, extremamente perigosas.

Eu gostaria de responder a uma pergunta que o Leonardo fez: com a desestabilização da economia e o militarismo dos EUA, podemos apontar para uma desestabilização geral da economia política imperialista? E seria possível algo positivo sair disso? Bem, ao contrário desses outros grupos, eu não tenho o poder da profecia. Mas temos alguns elementos e os elementos indicam que, primeiro, os Estados Unidos serão expulsos da Síria em breve e também do Iraque; eles não conseguirão manter essas posições. Ninguém sabe o que pode acontecer com Israel. Pode ser que se consiga um acordo de paz com a derrubada de Netanyahu, ou que o Estado de Israel seja extinto numa grande bola de fogo.

Existem duas situações principais que envolvem uma série de outras possíveis ocorrências. O que poderia ocorrer no passado é a desestabilização a partir de Israel dos mercados financeiros de Londres e Nova York e de Chicago, onde se negocia o petróleo WTI, e de Londres, onde se negocia o petróleo Brent. Essas desestabilizações poderiam levar à desestabilização desses mercados financeiros e do próprio capitalismo. Mas não se pode afirmar que isso resultaria na desestabilização final, porque a China já acertou acordos tanto com a Rússia quanto com a Arábia Saudita e com o Irã para fornecimento de petróleo, e o pagamento é feito não mais em dólares, mas na moeda chinesa, o yuan. Assim, o Ocidente, vamos dizer, capitalista, corre cada vez mais riscos, e a China tem construído contramedidas para se prevenir de um colapso generalizado. Desde 2008, eles estabeleceram pressupostos que não estão claros em suas diretrizes, mas que são visíveis. Podemos discutir isso em outra ocasião.

Se algo positivo pode sair disso, eu não sei. A região tende ao colapso, mesmo que seja feito um acordo de paz em Gaza. Se a existência da Palestina não for garantida, os grupos palestinos se fortalecerão e o Irã também. Como dizia Maquiavel em "Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio", "não se evita uma guerra, apenas se adia em proveito do inimigo". Portanto, se for assinado um acordo de paz em Gaza, isso apenas adiará a situação em proveito dos palestinos. Se a guerra for levada até o final, é provável que Israel não sobreviva. Assim, Israel está cada vez mais próximo de seu colapso.

Para as pessoas que acompanham a distância os acontecimentos e a profundidade estrutural da guerra em curso, não é apenas o colapso do governo Netanyahu, mas o colapso do Estado de Israel. O próprio Netanyahu tem reconhecido isso; ele percebe que está em uma guerra existencial, ou seja, uma guerra pela sobrevivência do Estado de Israel, mas já é muito tarde. Há uma expressão popular que diz que "a hora já soou". Na época do primeiro-ministro Isaac Rabin, que assinou os Acordos de Camp David, ele percebeu que Israel caminharia para o colapso e preparou-se para a solução de dois estados, inclusive com colaboração econômica com os palestinos. No entanto, o primeiro-ministro de Israel caminhava com um mínimo de 70 seguranças. Um jovem de 18 anos, franzino, conseguiu ultrapassar todos os seguranças e descarregar um revólver com seis balas em Isaac Rabin. Com a morte de Rabin, Israel perdeu a oportunidade de mudar sua política extrema, e a hora já soou há muito tempo.

Eu espero que a resposta às perguntas do Leonardo esteja contemplada. O Walter explica como ele acha você, e agradeço. O Walter Sousa Freire diz que é inscrito nos canais onde o professor dá aulas e está aprendendo muito. Obrigado pelo apoio.

 

Emancipação do Trabalho

Eu vou agora ler a pergunta da Andreia e o cumprimento do Meg Pimentel. A Andreia diz "boa noite, pessoal, estou aprendendo muito com vocês". E Meg, uma colega de trabalho e especialista em Libras, também manda um abraço e pede desculpas por não ter conseguido aparecer antes.

(58:30) A Andreia pergunta: algum dos companheiros pode, por favor, traçar um panorama sobre as implicações políticas dessas conjunturas mundial e latino-americana para as questões políticas e econômicas nacionais? Quais são as implicações desse tema que estamos tratando hoje, que é a radicalização da extrema direita em forma de governo?

Desde a Segunda Guerra Mundial, o nazismo não assumia governos em sua forma mais radical, mais dura e mais explícita como assumiu agora no século XXI. É verdade que houve ditaduras na Indonésia e ditaduras latino-americanas que tinham características fascistas ou fascistoides, mas no formato atual estamos vendo uma segunda geração de nazismo em várias partes do globo, desde a França até Israel, passando pelos próprios Estados Unidos e o Brasil com o governo Milei.

Então, Fábio e German, se quiserem responder melhor a essa pergunta da Andreia sobre as implicações dessa conjuntura internacional na política e economia nacional, fiquem à vontade.

(1:00:00) German, você pode tratar disso?

 

German Motta

Como a extrema direita, que é repressiva na América Latina, está chegando ao poder por meio do voto e dentro do ordenamento constitucional, algo que não acontecia desde os anos 30 e 20 do século XX. Essa segunda onda, que aprendeu com a experiência anterior, é menos bizarra culturalmente e mais dura e repressiva. Essas características refletem a necessidade do capital financeiro de aprofundar seus ajustes, resultando em regimes que deixam de ser meramente neoliberais para se tornarem paulatinamente neofascistas.

(1:01:06) Fábio e German, se não tiverem mais nada a declarar, podemos encerrar por hoje. Considero que o tema foi plenamente desenvolvido e satisfatoriamente abordado, organizando-nos para as lutas futuras, incluindo uma nova onda de protestos em defesa da Palestina e dos povos do Ocidente asiático ameaçados pelo imperialismo mundial. Leonardo diz: "Abraço, gente. Live excelente." Andreia comenta: "Não contava com essa astúcia." German agradece a Andreia e Fábio.

(1:03:00) Fábio e German, vamos para as considerações finais.

 

Fábio Sobral

Posso começar?

Claro, estamos talvez no momento mais dramático, trágico e decisivo desde a Segunda Guerra Mundial, desde a invasão da União Soviética e as batalhas em Leningrado e Petrogrado, desde que a Alemanha começou a Operação Barbarossa. Estamos em um ponto semelhante ao que alguns consideram a Primeira Guerra Mundial, a Guerra dos Sete Anos de 1756 a 1763. Impérios estão ruindo, e vivemos um momento dramático.

(1:04:12) German, antes de você, boa noite e obrigado. Andréa diz: "Boa noite, camaradas. Até a próxima Live." Rodrigo Ramos pergunta a German: "É verdade que Milei se converteu ao Shab Lubavitch, a seita associada a esse grupo extremista sionista?"

 

Fábio Sobral

Desculpe interromper, German. O Shab Lubavitch é um grupo associado ao sionismo extremo.

 

German Motta

Se Milei se converteu, não sei, mas a informação que tenho é que ele está ligado a uma ramificação religiosa do sionismo extremo. Não tenho os nomes exatos dos rabinos com os quais ele estaria ligado agora. Se ele se converteu, não posso confirmar.

 

Emancipação do Trabalho

(1:05:03) Essa situação reflete o grau de apodrecimento social e do tecido social que vivemos hoje. Ao mesmo tempo, nunca uma causa recebeu tanto apoio popular e tantas manifestações com mais de um milhão de pessoas como a causa palestina. O mundo está em uma encruzilhada. Agradecemos a todas as pessoas que assistiram e participaram pelo chat. Agradecemos profundamente ao Fábio Sobral mais uma vez e esperamos contar com ele na próxima terça-feira, assim como com o retorno do Fred na semana que vem. Um abraço a todos e boa noite, camaradas. A luta continua.

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