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Análise crítica da apologia à lumpenização e ao PCO

Análise crítica da apologia à lumpenização e ao PCO

O presente texto tem como objetivo criticar a postura do Partido da Causa Operária (PCO) em relação à apologia a figuras como Neymar, sob a alegação de um posicionamento "anti-imperialista". A análise crítica se debruça sobre a problemática da lumpenização, refletindo sobre como a romantização desse fenômeno marginaliza a luta do proletariado e distorce a compreensão da biopolítica contemporânea.

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Fonte: https://oglobo.globo.com/esportes/futebol/noticia/2022/10/

 

Leonardo Lima Ribeiro

O presente texto tem como objetivo criticar a postura do Partido da Causa Operária (PCO) em relação à apologia a figuras como Neymar, sob a alegação de um posicionamento "anti-imperialista". A análise crítica se debruça sobre a problemática da lumpenização, refletindo sobre como a romantização desse fenômeno marginaliza a luta do proletariado e distorce a compreensão da biopolítica contemporânea. Através de uma perspectiva que une elementos do marxismo e da crítica à lógica capitalista, argumentaremos que a defesa de figuras como Neymar não representa uma resistência real, mas sim uma aceitação da dinâmica de dominação existente.

A análise biopolítica empreendida pelo PCO, quando aplicada à apologia da lumpenização, revela-se como uma abordagem positivista que limita a compreensão da realidade social, excluindo uma visão dialética sobre o proletariado. Essa perspectiva reduz a classe trabalhadora ao "em si" — ou seja, às suas condições materiais de existência e à sua posição na estrutura econômica — sem considerar sua capacidade de se organizar, desenvolver uma consciência de classe e agir como um "para si". Ao romantizar ou naturalizar a lumpenização, essas teorias obscurecem as dinâmicas de luta de classes e o potencial emancipatório do proletariado.


Nesse contexto, o Partido da Causa Operária (PCO) torna-se alvo de crítica ao fazer apologia a figuras como Neymar, sob a alegação de uma postura "anti-imperialista". Essa defesa não se sustenta, pois o que está em jogo não é uma luta genuína contra o imperialismo, mas sim a celebração de um ícone cultural emergido das camadas marginalizadas que ascende ao topo das estruturas do capital global sem qualquer compromisso com a transformação das condições que geram essa marginalização. Neymar é apenas um exemplo entre muitos; outras figuras públicas que emergem das classes marginalizadas e se tornam símbolos de sucesso servem para reforçar essa crítica.


Essas figuras, ao serem glorificadas, muitas vezes se tornam representantes de um capitalismo que explora a cultura popular e a identidade racial, sem, de fato, enfrentar as estruturas que perpetuam a desigualdade. A estrutura ideológica do PCO, com sua carcaça trotskista, oculta uma fundamentação foucaultiana que se revela na forma como aborda o poder e a resistência. O pensamento de Foucault nos ajuda a entender como a biopolítica opera na regulação da vida social, onde a individualização se torna uma forma de controle que, paradoxalmente, pode ser utilizada para justificar a promoção de figuras que não desafiam a estrutura de dominação existente.


A ascensão de Neymar e outros ícones não deve ser vista como um triunfo das classes marginalizadas, mas sim como uma forma de inserção no capitalismo global que não altera a lógica de exploração e opressão. Essa narrativa de "sucesso" individual é, na verdade, uma forma de legitimação do status quo, pois não se traduz em emancipação coletiva do proletariado, mas na mercantilização de suas experiências e culturas. Quando o PCO celebra Neymar, ignora-se o fato de que essas figuras, ao chegarem ao poder, muitas vezes perpetuam uma dinâmica de fascistização das relações humanas, onde a competição e a individualização são elevadas acima da solidariedade e da luta coletiva.


Neymar simboliza a mercantilização do talento e a exploração do corpo no sistema capitalista, representando uma integração ao capitalismo cultural e não uma subversão dele. Assim, ao tratar Neymar como uma figura de resistência anti-imperialista, o PCO desvia o foco das lutas concretas da classe trabalhadora, promovendo uma aceitação implícita da ordem vigente, baseada em individualismo e competição. Essa perspectiva se alinha a uma forma de biopolítica que prioriza a gestão da vida em termos de desempenho individual, em detrimento da luta coletiva por emancipação.


Portanto, a defesa de Neymar pelo PCO não é uma atitude anti-imperialista, mas uma apologia ao que o lumpemproletariado representa na lógica capitalista: uma classe fragmentada e desorganizada. Essa celebração do individualismo ignora a necessidade de uma transformação revolucionária. Em vez de celebrar e apoiar figuras isoladas, que são alienadas de qualquer projeto de emancipação de classe, o PCO deveria priorizar a construção da consciência de classe e a luta organizada.


Quando os lumpenizados — indivíduos marginalizados sem relação orgânica com os meios de produção — chegam ao poder, tendem a fascistizar as relações sociais, reforçando estruturas de dominação e hierarquia, em vez de promover uma transformação emancipatória. A apologia à lumpenização que o PCO faz, através da celebração de ícones como Neymar, não apenas reproduz a apologia à desorganização da classe, mas também legitima uma lógica que não se preocupa com a organização coletiva da classe trabalhadora.


Assim, é crucial que o PCO, ao invés de fazer apologia a figuras como Neymar, redirecione seu foco para a organização e conscientização da classe trabalhadora, promovendo uma luta que realmente enfrente o imperialismo e as dinâmicas opressoras do capitalismo, em vez de legitimar uma estética da sobrevivência individual às custas do coletivo. Essa crítica é um chamado à reflexão sobre as direções que tomamos e as alianças que fazemos na busca pela verdadeira emancipação, destacando a necessidade de uma luta que articule o potencial revolucionário do proletariado frente às dinâmicas biopolíticas e capitalistas contemporâneas.

 

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