Reflexões sobre as transições socialista na Europa no século XX
O que consta no atestado de óbito das sociedades pós-capitalistas em transição para o socialismo na Europa. A obra de Mészáros é ampla e complexa, mas ela nos ajuda a começar a responder essa pergunta.
Celso Fernandes Prestes, militante de base do sindicato dos comerciários de São Paulo com referência na Intersindical e ativista do movimento vida além do trabalho VAT e militante prestista da Iniciativa Comunista
Recentemente, escrevi sobre o falecido Pacto de Varsóvia, mas, para evitar cair apenas na nostalgia, é necessário questionar o que consta no atestado de óbito das sociedades pós-capitalistas em transição para o socialismo na Europa. A obra de Mészáros é ampla e complexa, mas ela nos ajuda a começar a responder essa pergunta.
Antes de mais nada, é importante reconhecer que, embora sua obra não seja autofóbica, o autor, sendo um intelectual húngaro que vivenciou as lutas e contradições daquela transição, critica diversos aspectos, como a URSS, o bloco socialista, o anarquismo, o reformismo, entre outros.
O socialismo avançado pode ser considerado como a sociedade comunista ainda em seus estágios iniciais, onde muitos elementos da sociedade comunista ainda estão em estágio embrionário. Portanto, podemos dizer que as revoluções do século XX trouxeram para as sociedades pós-revolucionárias um início de transição para o socialismo, que foi adotado como uma bandeira de luta. No entanto, é importante mencionar que Suslov e os dirigentes soviéticos da época de Leonid Brejnev empregaram o termo "socialismo real" como o único viável, abandonando assim o conceito de transição socialista.
Considerando que o capital é uma relação social anterior ao capitalismo, na qual se busca transformar dinheiro em mais dinheiro, essa relação sobrevive mesmo após o fim do capitalismo. O governo revolucionário tem o poder de expropriar fábricas, realizar reforma agrária e outras medidas, mas não consegue alterar as relações sociais herdadas da sociedade anterior. É inviável ter um fiscal em cada casa, fiscalizar cada pessoa ou gerenciar todas as empresas. Essa realidade ocorre em meio a um forte cerco do capitalismo/imperialismo, o que muitas vezes impossibilita a abolição do trabalho assalariado, resultando em diferenças salariais significativas, como as existentes entre um gari e um engenheiro. Essas hierarquias mantêm viva a relação social de capital, a grande questão, é reconhecer o problema e combatê-lo.
No entanto, ainda não existem condições para estabelecer um planejamento efetivamente democrático que envolva toda a sociedade, sendo necessário criar uma equipe de planejamento. Podemos afirmar, portanto, que o capital, como relação social, sobrevive ao dia seguinte da Revolução nessas sociedades. Ao invés de tentar reconhecer e combater esse problema, rotulou-se essa realidade como "socialismo real" e, posteriormente, tentou-se impor mecanismos de mercado de cima para baixo, levando à autodestruição da transição socialista a partir de dentro, na chamada Perestroika, liderada pelo traidor Gorbachev. Inicialmente, acreditava-se que após revolução política liderada por Lenin em 1917, com a tomada do poder, Gorbachov daria início à revolução social nos anos 80 do séc xx , mas posteriormente mostrou-se um processo de autodestruição da transição socialista
Chamamos de revolução política a tomada do poder, porém, é fundamental que essa revolução política esteja acompanhada de uma revolução social, que envolve a reorganização da sociedade com base em novos valores e formas de relação social. Essa transformação social começa antes mesmo da revolução política, e apesar dos desafios enfrentados, devemos nos orgulhar dos avanços alcançados pelas sociedades pós revolucionárias em transição para o socialismo Um exemplo marcante é o desenvolvimento de um país que, anteriormente, dependia de arados de madeira e, anos depois, foi capaz de levar o primeiro homem ao espaço. É importante reconhecer que as revoluções do século XX trouxeram principalmente a revolução política, não avançando significativamente na revolução social.