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AS HIPÓTESES SOBRE A MORTE DO PRESIDENTE IRANIANO

AS HIPÓTESES SOBRE A MORTE DO PRESIDENTE IRANIANO

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  Fábio Sobral*

    O presidente da República Islâmica do Irã morreu na queda do helicóptero em que viajava. Após o desaparecimento da aeronave os grupos de busca encontraram os destroços em uma região montanhosa.

    É uma situação intrigante devido ao papel decisivo desempenhado pelo Irã na geopolítica atual, seja: 1) na organização e manutenção do Eixo da Resistência composto por Irã, Forças de Mobilização Popular no Iraque, República Árabe Síria, Hezbollah no Líbano, Ansar Allah no Iêmen e Hamas na Palestina; 2) na entrada nos BRICS; 3) no acordo de paz com a Arábia Saudita; 4) no aprofundamento de relações comerciais estratégicas com a China; 5) na parceria com a Venezuela na extração de petróleo e no campo militar; 6) nos acordos ainda não totalmente claros quanto à sua natureza com a Coreia do Norte; e 7) na colaboração militar estratégica com a Rússia.

   São elementos demasiadamente perigosos para o poderio do Ocidente. O cargo de presidente do Irã é chave para os desdobramentos geopolíticos e econômicos de nossos tempos. Mesmo Ibrahim Raisi tendo pertencido à ala moderada do regime iraniano. Esta ala não procura uma escalada militar nas relações com o Ocidente, tendo quase sempre colaborado com as inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica, participado do contrabando de armas no escândalo Irã-Contras no governo Ronald Reagan e que, por último, dirigiu um ataque limitado à Israel em resposta à morte de pessoal militar na embaixada iraniana em Beirute.

    Podemos estabelecer quatro hipóteses principais para tentar explicar a morte de Ibrahim Raisi. Vamos a elas:

  1. A mais simples é que tenha sido um acidente. Afinal, acidentes podem ocorrer. Porém, trata-se de algo estranho, pois uma falha mecânica é pouco provável. O helicóptero que leva um presidente deve ser cuidadosamente revisado. O clima e a neblina? Dois outros helicópteros da comitiva não tiveram problemas e chegaram a seus destinos. O piloto que conduzia o presidente certamente não era inexperiente. Por isso, podemos conjecturar que é a hipótese mais frágil;
  2. Israel tenha promovido mais um assassinato dentro do Irã. Não podemos esquecer os sucessivos assassinatos de cientistas iranianos, os atentados às redes e centrais elétricas iranianas realizados pelos serviços secretos terroristas israelenses. Teria que ter havido sabotagem ao helicóptero específico de Raisi. Este esteve na fronteira com o Azerbaijão no dia anterior para inaugurar uma represa construída pelos dois países. Porém, Azerbaijão e Israel são associados militar e economicamente. Com divergências profundas, onde o Irã apoiou e apoia a Armênia na guerra travada com o Azerbaijão. Este recebeu armas e colaboração militar intensa dos israelenses. Depois da inauguração da represa o helicóptero de Raisi estaria ao alcance do serviço secreto azeri para agir em favor de Israel. Ou melhor, do grupo de Netaniahu e seus interesses de uma guerra em grande escala no Oriente Médio. O presidente iraniano ter confiado tão rapidamente em relações normalizadas com o Azerbaijão foi um erro, afinal não se pode esquecer as lições de Maquiavel sobre como tratar com inimigos;
  3. A terceira hipótese requere outra hipótese causal: teria a Guarda Revolucionária do Irã descoberto alguma colaboração do grupo de Raisi nas mortes de Qassem Soleimani no Iraque, durante o governo Trump? Afinal, Soleimani seria o candidato imbatível à sucessão presidencial. Soleimani tinha posições não-colaboracionistas com o Ocidente, o que desagradava Raisi e seu grupo. Depois, a morte de dois generais possíveis sucessores de Soleimani no ataque israelense à embaixada iraniana no Líbano, principalmente Mohamed Reza Zahedi. A Guarda Revolucionária ocupou os pontos estratégicos de Teerã para “prevenir” um possível golpe de Estado. Eis a pergunta-chave: prevenir ou realizar? Teremos que aguardar; e
  4. O Aiatolá Khamenei não queria ser substituído por Raisi, o que estava sendo preparado. Caso essa hipótese seja verdadeira, teria que ter a colaboração do serviço secreto iraniano.

São hipóteses elaboradas ainda no começo dos fatos. Vamos aguardar para termos mais clareza.

* Professor da Universidade Federal do Ceará - UFC

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