São Paulo e Buenos Aires: comunistas participam das manifestações pela Vitória sobre o nazismo
A dupla natureza do dia da vitória e a luta contra a OTAN pela desnazificação da Ucrânia
Nos 79 anos da grande vitória do exército soviético sobre o nazismo foram realizadas manifestações em várias cidades do mundo.
A comemoração ganha muito maior importância na conjuntura internacional contemporânea nos últimos 10 anos de ressurgimento de governos que manifesta ou envergonhadamente possuem simpatias tanto pela ideologia quanto pela política nazista. Essa não tem sido uma mera opção política desse ou daquele representante da extrema direita burguesa mas, cada vez mais, uma tendência dos governos e movimentos ideologicamente identificados dirigentes ou vassalos do imperialismo neoliberal.
O ressurgimento do nazifascismo no século XXI, quase 80 anos depois da sua derrota fragorosa de suas versões clássicas alemã e italiana, é uma expressão política da crise de dominação do imperialismo e da decadência da ditadura do capital financeiro sobre o globo. Essa crise tem assumido manifestações diversas, em distintos contextos nacionais, que assumem a forma dos movimentos que apoiam Tump, Milei, Bolsonaro, Zelensky ou Netanyahu.
A principal manifestação, evidentemente, foi o desfile em Moscou, uma marcha denominada "Regimento Imortal", realizada anulamente na Rússia, "considerado uma das maiores manifestações populares da Rússia, atraindo milhões de pessoas em todo o país. A marcha é um símbolo da unidade nacional e tem um significado especial para os russos, e é vista como uma forma de manter viva a memória da Segunda Guerra Mundial, que teve um impacto profundo na história e na cultura do país." (Compatriotas Russos).
A dupla natureza do dia da vitória sobre o nazismo, ontem e hoje
As comemorações possuem uma dupla natureza que se combinam na memória da vitória sobre Hitler e se atualizam na atual guerra fria contra a OTAN/Zelensky.
A primeira natureza tem uma conotação nacionalista russa, explorada desde o governo de Stalin e continuada pelo atual governo de Putin, que denominou a Segunda Guerra como "Grande Guerra Patriótica", porque também foi uma guerra de libertação nacional diante das aspirações escravistas que o nazismo tinha não só para os soviéticos como para o conjunto da humanidade. Esse tipo de nacionalismo é progressivo quando se encontra em contraposição ao imperialismo e o cerco histórico que esse realiza contra a Rússia. Nesse sentido, quando está contra a OTAN (e não quando é esgrimado pela burguesia russa contra as lutas dos trabalhadores ou de outras etnias da federação) o nacionalismo russo pode ser progressivo. A ideologia russófoba ocidental, seguida por parte da esquerda mundial, demoniza a Rússia e a Putin como expansionismo/imperialismo, ocultando que foi a OTAN que após o fim da URSS se expandiu ostensivamente, dobrou em quantidade de membros de 14 para 31 países e cercou todas as fronteiras russas no Leste Europeu e na Escandinávia com suas bases. Essa conotação também se atualiza na atual campanha da Federação Russa na Ucrânia, uma vez que trata-se de uma operação militar defensiva diante da expansão da OTAN para o Leste, que previa usar a fronteira da Ucrânia como cabeceira de ponte para instalar novos mísseis ocidentais antirussos.
Na medida em que o imperialismo ocidental recorre cada vez mais a tropas mercenárias, ao terrorismo em solo russo (RÚSSIA: condenamos o ataque terrorista contra na Crocus City Hall!) Moscou adapta sua estratégia de defesa ao ataque. Isso é assim porque se verificou ao longo da década que vai de 2014 até 2024, do golpe do estado do Euromaidan até a atual fase da guerra, que o ocidente rompeu todos os acordos de paz (Minsk I e II), criou dezenas de laboratórios de armas químicas e bacteriológicas proibidas pelas convenções internacionais que assinou, massacrou 14 mil ucranianos russófonos e nos últimos dois anos vem investindo massivamente na escalada do conflito em favor de uma terceira guerra mundial. Se verificou então que só é possível desarmar a Ucrânia, convertida de país independente em uma nova arma apontada contra a Rússia, com a derrubada do governo de Kiev.
A segunda natureza, explícita nas comemorações e no conjunto da guerra atual pela desnazificação da Ucrânia, contra o governo nazista de Kiev, testa de ferro da OTAN, recorre à simbologia e aspirações explicitamente comunistas. O governo Putin, apesar de burguês, sob a pressão interna da história e das simpatias da população pelo passado soviético e pressão externa do cerco imperialista, utiliza as fardas, bandeiras, tanques, aviões reivindicando, à sua maneira, a história e os significados da luta comunista, antiimperialista e antifascista, incorporando-os às comemorações e que hoje, na época da decadência do sistema imperialista liderado pelos EUA se tornam mais atuais que nunca.
Reivindicando a herança da luta realizada pelo povo soviético e pela resistência comunista em todo mundo, o Partido Comunista e a Tendência Militante Bolchevique participaram das manifestações organizadas no Brasil e Argentina, respectivamente.
Argentina
A comemoração do Dia da Vitória pela Casa da Rússia (que é ponto de encontro da comunidade russo-argentina, onde há filhos e netos de russos e alguns imigrantes russos mais recentes) não foi realizada no dia nove de maio por motivos da greve geral argentina contra o governo Milei. A Tendência Militante Bolchevique, seção argentina do Comitê de Ligação pela IV Internacional (CLQI), esteve presente.
A comemoração foi no último dia 10 de maio, na própria Casa De Russia, localizada na capital federal. Na área de comemoração, chama a atenção a grande quantidade de símbolos soviéticos. Houve uma apresentação da presidente do Conselho Coordenador de organizações de compatriotas russos na Argentina, filha de russos e veteranos da Grande Guerra Patriótica, como é chamada a defesa da URSS na Segunda Guerra Mundial, que explicou a necessidade de não permitir o regresso do fascismo e do nazismo e resgatar a verdade histórica neste caso de que se a União Soviética – com os seus mais de 27 milhões de mortos, o nazismo não foi derrotado.
A canção da “guerra santa” da Grande Guerra Patriótica foi tocada em russo, onde todos os participantes se levantaram, e o hino russo também foi tocado. Houve um minuto de silêncio em homenagem aos que tombaram na Grande Guerra Patriótica. Posteriormente, foram exibidos filmes, um da Grande Guerra Patriótica e o seguinte do desfile do Dia da Vitória em Moscou, em nove de maio de 2024. Deste último filme, vale destacar o grande número de bandeiras vermelhas que foram levantadas, a participação em o desfile do tanque T-34, emblema das armas soviéticas durante a Segunda Guerra Mundial, a participação dos heróis da atual operação especial e vale ainda destacar em relação à verdade histórica o apelo que Putin fez ao papel da China contra o militarismo japonês.
Brasil
Em São Paulo, a maior cidade do Brasil e da América Latina, foi realizado um ato público pelo dia da vitória pela segunda vez.
Em forma de seção solene no dia seis de maio, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, sob a convocatória da embaixada Russa no Brasil, dos Compatriotas Russos e do Deputado Estadual Maurici, do Partido dos Trabalhadores. Estiveram presentes também membros da União Cultural pela Amizade dos Povos e o Partido Comunista, seção brasileira da CLQI.
Estiveram presentes muitas pessoas da comunidade russa no Brasil, religiosos da igreja ortodoxa, divulgadores da cultura russa, além da representante diplomática do Brasil, do deputado estadual convocante da atividade e do próprio embaxiador russo. Com muitos símbolos soviéticos presentes, foi registrada a importância mundial da vitória soviética sobre o nazismo, que havia voltado quase 2/3 de seus esforços de guerra, em soldados e blindados para conquistar a URSS.
Também foi registrado que a luta contra o nazi-fascismo não se encerrou na segunda guerra mundial, ela continua e ameaça com uma nova guerra mundial, que o fenômeno voltou a tona com força e não apenas em forma de movimento social, mas como vários governos, como o de Bolsonaro (sem citá-lo), responsáveis por novas atrocidades, como o destrato para com a situação da pandemia, a apologia à tortura e aos golpes de estado.
A comemoração seguiu com uma apresentação da canção Katyusha, ganhou fama durante a Segunda Guerra Mundial como inspirando à população soviética para prestar serviço militar e defender a URSS, vídeos de descendentes dos que lutaram na guerra e homenagens aos que hoje defendem a cultura russa no Brasil, apesar de toda russofobia ocidental.
A bandeira icônica que foi aberta na ALESP foi a do Estandarte da Vitória, uma das que foram hasteadas logo abaixo uma estátua no telhado do Reichstag que registra a companhia que concluiu a vitória soviética. É a bandeira de assalto da 150ª divisão da Ordem de Kutuzov, 2ª classe da Divisão de Rifles de Idritsa, conforme mostrado na inscrição cirílica que significa: 150ª Divisão de Fuzileiros da Ordem de Kutuzov 2ª Classe, Divisão Idritsa , 79º Corpo de Fuzileiros, 3º Exército de Choque, 1ª Frente Bielorrussa. Além disso, a Bandeira da Vitória é o símbolo oficial da Vitória na Bielorrússia desde 1996, na Transnístria e desde 2009 na República Popular de Donetsk e na República Popular de Lugansk .