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Eleição Francesa: Frentes Populares Superaram Le Pen por Enquanto. Mas o Perigo Permanece!

Eleição Francesa: Frentes Populares Superaram Le Pen por Enquanto. Mas o Perigo Permanece!

Ocorreu uma derrota tática de Le Pen, mas não estratégica. Ela será muito perigosa na eleição presidencial de 2027. O partido de Mélenchon propõe restaurar aposentadorias, aumentar salários e benefícios, mas, na política internacional, favorece ao imperialismo e ao sionismo. Defende a causa palestina, mas condena resistência iraniana. Reconhece que Kiev tem um regime neonazi, mas defende o direito desse regime a exercer opressão sobre as repúblicas do Donbass em nome da integridade ucranina.

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Declaração conjunta da CLQI e da ClassConscious.org

A aposta do presidente Emmanuel Macron em convocar novas eleições para a Assembleia Nacional Francesa como uma tentativa de conter a vitória da extrema direita Rassemblement National – (RN) ou National Rally, anteriormente Front Nationale (Frente Nacional) de Marine Le Pen nas eleições europeias de junho, abriu uma nova situação política. Foi um ato de desespero de Macron, cuja base de apoio de "centro" diminuiu devido aos seus próprios ataques cruéis à classe trabalhadora no último período, aumentando escandalosamente a idade da aposentadoria de 60 para 64 e forçando-a por meio do uso de cláusulas de emergência na constituição sem sequer uma votação parlamentar. Sua belicosidade na Ucrânia, mesmo antes propondo enviar abertamente tropas francesas para a batalha contra a Rússia, foi quase projetada para provocar uma guerra contra a Rússia. Em seguida, ocorreram suas tentativas vãs de suprimir os protestos contra o genocídio em Gaza e sua bajulação à islamofobia sionista de corte francês e à agitação anti-migrante. Essas coisas desacreditaram completamente seu regime e alimentaram o crescimento da extrema direita na aparente ausência de um potente movimento de esquerda.

Então, após o choque da Euroeleição, ele dissolveu a Assembleia Nacional. A vitória do Partido de Le Pen no primeiro turno significou que a aposta parecia ter fracassado em grande estilo. Mas a Nova Frente Popular (NPF), lançada pelo partido La France Insoumise (França Insubmissa – LFI) liderado pelo político social-democrata de esquerda Jean-Luc Mélenchon, que incluía o Partido Socialista, o Partido Comunista e os Verdes, foi galvanizada pela ascensão do partido de Le Pen. Ela lançou uma campanha de votação tática para impedir que o Partido de Le Pen obtivesse maioria parlamentar. Os apoiadores do NPF e do Partido de Macron retiraram sistematicamente seus candidatos em distritos eleitorais onde ficaram em terceiro no primeiro turno, com seu parceiro de bloco tendo conquistado o segundo lugar. Essa tática de colaboração de classe do NPF meio formado, ele próprio uma aliança de colaboração de classe, alcançou uma vitória tática de curto prazo, que de certa forma pareceu superficialmente justificar a convocação de Macron de uma eleição antecipada. Em termos de assentos, o NPF ficou em primeiro, o Partido Renaissance (Renascimento - RE) de Macron ficou em segundo, com a extrema direita em terceiro lugar. Em termos de assentos isto não representa uma maioria parlamentar para nenhum deles.

Mas em termos de votos, o RN chegou primeiro mais decisivamente no segundo turno do que no primeiro. Aumentou sua votação de 33,21% no primeiro turno para 37,06% no segundo turno. Um aumento bastante considerável. O que significa que, embora a Frente Popular da esquerda e Macron possam, por votação tática, ter frustrado o RN em termos parlamentares, eles fortaleceram Le Pen em termos de apoio popular. O que não resolveu o problema, portanto, apenas adiou o conflito decisivo para mais tarde. De fato, longe de ser uma grande vitória para Mélenchon, o voto do NPF caiu de 28,21% no primeiro turno para 25,80% no segundo turno. Enquanto o Partido de Macron ganhou marginalmente, passando de 21,28% no primeiro turno para 24,53% no segundo turno. 

Em termos parlamentares, o resultado por enquanto é um impasse. Nenhum bloco tem algo parecido com uma maioria. Macron, como presidente, provavelmente tentará desesperadamente montar uma coalizão por meses. Ele pode muito bem não ter sucesso, pois, apesar da aritmética parlamentar, os votos populares reais e as forças sociais por trás deles colocam uma enorme pressão sobre os membros da Assembleia Nacional. E se não tiverem sucesso, pode até haver outra eleição em algum momento. Le Pen ainda pode se beneficiar disso.

Uma das principais razões para a ascensão de Marine Le Pen é sua oposição ao apoio da França à guerra perdida da OTAN contra a Rússia na Ucrânia. O proletariado francês simplesmente se opõe a ser arrastado como bucha de canhão pelo imperialismo para a guerra. Uma minoria da classe dominante vê a extrema direita como um aríete para empurrar uma agenda mais nacionalista em desacordo com a tendência "globalista" pró-UE que está profundamente envolvida na guerra por procuração liderada pelos EUA na Ucrânia. Essa ala está usando a oposição verbal ao envolvimento francês na Ucrânia como um meio de angariar apoio de parte da classe trabalhadora, particularmente em cidades mais provinciais que são mais conservadoras e menos etnicamente diversas do que as maiores cidades. Bem como mobilizar o sentimento racista anti-migrante, ao qual Macron já havia se adaptado para tentar "desarmar" seus oponentes de extrema direita roubando suas roupas.

Macron introduziu uma nova legislação limitando o acesso à cidadania, direitos a benefícios sociais e reunificação familiar para migrantes, bem como a deportação de "imigrantes" se eles cometerem crimes... mesmo que sejam condenados como adultos, eles vivem no país desde a infância. A questão dos vistos de trabalho para migrantes irregulares foi reduzida. Os vistos de estudo no exterior também são restritos. Tudo soa muito parecido com o tipo de lei introduzida na Grã-Bretanha pelos conservadores e pelos Brexiteers na última década, exceto que Macron é tão pró-UE quanto qualquer político pode ser. Isso mostra como a ala nacionalista da burguesia, usando os fascistas como um aríete, pode induzir seus críticos a bajular sua agenda racista-nacionalista. Migrantes são atacados, muçulmanos são vilipendiados, com o niqab proibido em espaços públicos. Na França, 50% da população carcerária é muçulmana, o que é desproporcional, já que a população muçulmana na França é de aproximadamente 10%.

A vitória circunstancial do NPF apenas adia a vitória de Le Pen porque as posições do NPF sobre a guerra na Ucrânia são muito próximas das posições impopulares de Macron de aumentar o apoio francês à Ucrânia, enviando mais armas e instrutores militares franceses para a guerra. Ao se associar ao imperialismo na Guerra da Ucrânia, o NPF joga o mesmo jogo geopolítico de Macron, o jogo de empurrar o proletariado politicamente para os braços da extrema direita "fascista-pacifista". Este é o maior crime do NPF no momento. Este crime, se não for renunciado e a política oposta adotada e combatida pelos partidos operários envolvidos, abrirá caminho para a ascensão de Le Pen ao governo francês. Um desastre, particularmente para os setores da classe trabalhadora com origem imigrante.

Por trás do ufanismo o que ocorreu foi, no máximo, uma derrota tática para Le Pen, mas não estratégica. A tática de curto prazo pode até fortalecer Le Pen estrategicamente. Ela será muito perigosa na eleição presidencial de 2027, que pode muito bem ser entre ela e Mélenchon, já que Macron não inspira mais apoio popular. O partido LFI de Mélenchon propõe algumas reformas razoáveis, para restaurar pensões, aumentar salários e benefícios, reverter radicalmente a austeridade. Também é, em teoria, hostil à OTAN. Em questões internacionais, Mélenchon representa uma colcha de retalhos. Sobre a Ucrânia, o partido Mélenchon condenou a Operação Militar Especial (OMS) que começou em fevereiro de 2022 como uma chamada "invasão" da Ucrânia, ecoando a propaganda imperialista. Embora ele se oponha à belicosidade em uma base pacifista, na verdade:

“'Nós defendemos a restauração da integridade territorial da Ucrânia. Mas isso deve ser feito politicamente, mas não por meio de força militar', ele disse, acrescentando que a ideia de realizar ataques dentro da Rússia é 'absurda'.

https://tass.com/world/1814251?

Nessa declaração não há qualquer menção aos direitos do povo predominantemente russo-falante do Donbass [que sofrereu uma verdadeira caçada humana pelos ucronazis de Kiev, ao custo de 14 mil vidas entre 2014 e 2022]. Os povos oprimidos de Donbass votaram contra a "integridade territorial" da Ucrânia, contra um regime de extrema direita em Kiev que começou a suprimir seus direitos linguísticos em 2014. Nesse conceito, a integridade territorial anula os direitos democráticos das pessoas que vivem em um estado — essa posição do LFI nem de longe poderia ser considerada uma posição socialista. Embora ele tenha tido uma resposta mais simpática à separação da Crimeia para se juntar à Rússia em 2014, e Melanchon reconheça que o regime de Kiev é "neonazistas".

Mélanchon condena a resistência das nações oprimidas contra a ofensiva imperialista. Ele reconhece que o regime de Kiev é neonazista mas defende o direito desse regime a exercer sua opressão brutal sobre as repúblicas do Donbass, em nome de uma "integridade territorial ucraniana", mesmo após Kiev ter perseguido, torturado e executado a 14 mil pessoas entre 2014 e 2022. Ao mesmo tempo em que reconhece a causa palestina contra Israel, condena a resistência iraniana aos ataques israelenses.  

Sobre a Guerra na Síria (2011-2020) Mélanchon foi favorável à intervenção russa e hostil à intervenção da Turquia do lado dos jihadistas mercenários pró-imperialistas. Isso pode refletir uma posição pró-Rússia mais antiga que fez parte da política burguesa francesa. Sobre o sionismo, as posições dele se assemelham as de Jeremy Corbyn da Grã Bretanha, bem como promete reconhecer a Palestina se a LFI ganhar poder. No entanto, ele é hostil ao Irã – com base no suposto argumento de que o Irã está tentando destruir Israel de alguma forma. Uma sutil posição pró-sionista.

O Partido Comunista na França ecoa a denúncia de Macron sobre a Rússia, dizendo que a intervenção foi uma “decisão criminosa…” envolvendo “…agressão contra a soberania do povo da Ucrânia.” Embora eles façam os apelos habituais por paz, negociações, etc., eles culpam a Rússia pela expansão agressiva da OTAN no Leste. O Partido Socialista é a favor da guerra. Seu líder Faure disse: “Se deixarmos a Rússia vencer, o risco que todos corremos é nos encontrarmos em uma situação em que a Rússia não vai parar.”

Uma declaração conjunta do Partido Socialista e dos Verdes é citada pelo Spectator dizendo:

“Nossa linha é clara: apoiamos a Ucrânia, apoiamos a entrega de armas, apoiamos a adesão da Ucrânia à União Europeia.”

https://www.spectator.co.uk/article/frances-political-upheaval-is-bad-news-for-ukraine/

A Place Publique de 'centro-esquerda' , que também faz parte do NPF, faz campanha por 'ajuda' à Ucrânia. A política predominante no bloco do NPF é o apoio ao mesmo belicismo de Macron. E por seu bloco com eles, Mélenchon associa seu partido a isso. Embora seja preciso reconhecer que muitos neste bloco são movidos por um justo sentimento antifascista contra a RN, ao mesmo tempo a política belicista da maioria no NPF sobre a Ucrânia está alimentando o crescimento do apoio popular à mesma RN.

É altamente duvidoso que Mélenchon consiga manter unido seu NPF para a eleição presidencial de 2027, e que ele consiga gerar o apoio popular para frustrar seriamente Le Pen mesmo se conseguisse. Essa também será uma eleição de dois turnos, e não está claro quem conseguiria combater Le Pen. O que está claro é que a colaboração de classes, embora tenha praticamente bloqueado o RN de ganhar a maioria e o cargo de primeiro-ministro agora, também causou um declínio no apoio a si mesmo em relação a Macron no segundo turno. As frentes populares historicamente foram um obstáculo à revolução, inclusive na história francesa, e em outros lugares como o Chile, e a pré-condição para Macron liderar uma luta real contra Le Pen pelo voto popular é uma ruptura com a colaboração de classes, com os Verdes pequeno-burgueses, muito menos com o partido neoliberal burguês de Macron, que a NFP efetivamente endossou no segundo turno, usando o voto tático dessa maneira.

A pré-condição para uma luta séria contra o partido de Le Pen é uma ruptura com o frentepopulismo. No segundo turno de uma eleição presidencial, não há como escapar do voto popular. Mas uma ruptura com o frentepopulismo na França significa uma ruptura com o reformismo, pois dentro de uma estrutura reformista, o sistema eleitoral francês torna o frentepopulismo uma tentação prática sempre que surge a questão do poder. Pode ser que haja algum tipo de crescimento da LFI antes de 2027, mas se o agrupamento de Mélanchon não romper decisivamente com o belicismo de Macron e essa frente popular fortemente pró-guerra, seguirá favorecendo ao crescimento da extrema direita populista e, na melhor das hipóteses, será tratado como o ex-presidente chileno Salvador Allende.

Frentes populares, seja com os Verdes ou com o Renascimento de Macron , são uma armadilha para a classe trabalhadora. Exigimos que Mélenchon, o Partido Socialista e o Partido Comunista rompam com os Verdes, recusem qualquer bloco político com forças não pertencentes à classe trabalhadora e lutem também e de forma ferrenha contra a guerra na Ucrânia. O principal indicador da natureza enganosa dessa frente popular é seu apoio à guerra por procuração de Biden/Macron na Ucrânia. Ao romper com o frentepopulismo e essa guerra imunda, eles na verdade minariam parte do apoio à RN.

Precisamos de um partido que se oponha à ameaça de guerra imperialista contra a Rússia e a China, que defenda os trabalhadores migrantes com unhas e dentes contra a extrema direita e Macron, e que lute contra todos os ataques neoliberais à classe trabalhadora. Pela autodefesa operária contra as vítimas do terrorismo fascista! Abaixo a guerra de Macron na Ucrânia – defender a Rússia, o Donbass e a Crimeia contra Macron e seus amigos nazistas! Abaixo Le Pen, rompa com a burguesia, sem Frentes Populares – por um governo de todos os partidos dos trabalhadores, LFI, SP, CP, em um programa anticapitalista!   

 

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