O SISTEMA IMPERIALISTA EM CRISE
Sobre o Trumpismo, contradições intra-EUA e o declínio imparável do sistema imperialista
Christian Romero e Humberto Rodrigues
A crise de dominação do sistema imperialista liderado pelos EUA se expressa através de uma nova guerra fria contra a China, a Rússia e os seus aliados.
Por sua vez, este não é o único problema dos Estados Unidos. A crise de dominação externa está ligada à crise interna, uma disputa em grande escala. A crise intra-imperialista dos EUA é apontada como uma nova guerra civil.
Portanto, nosso ponto de partida é uma nova guerra fria global que se combina com uma escalada de uma guerra civil intra-imperialista (Documento do CLQI: Marxismo e a Guerra Fria após a contrarrevolução).
A Suprema Corte dos EUA liberou a guerra jurídica (lawfare) contra Trump, rejeitando a “imunidade absoluta” reivindicada pelos seus advogados contra a acusação de que ele dirigiu o golpe de 6 de janeiro de 2021, pelo qual Trump é de fato responsável.
O jornal espanhol “El País” anuncia que o Supremo Tribunal do Colorado rejeita o direito de Trump de concorrer às eleições presidenciais. Nesse elemtento se pode ter um pouco da parte superestrutural da dimensão desta crise interna:
“Numa decisão bombástica sem precedentes que poderá alterar o futuro político dos Estados Unidos, o Supremo Tribunal do Colorado decidiu na terça-feira que não permitirá que Donald Trump concorra nas primárias presidenciais naquele estado ocidental do país. A dura resolução, que foi aprovada com quatro votos a favor e três contra, aceita como boa a teoria jurídica que considera que a participação do então presidente republicano nos acontecimentos que levaram ao ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, que se qualificam de “insurreição”, são suficientes, nos termos da Décima Quarta Emenda, para desqualificá-lo como candidato.
A decisão significa, na prática, que o nome de Trump não pode aparecer nas cédulas primárias do Colorado, nem, portanto, ser eleito.
Trump não é apenas mais um candidato a disputa pela Casa Branca em 2024. Ele é o presidenciàvel em um momento em que todas as iniciativas militares do imperialismo da última década, e outras antes delas, estão sendo derrotadas ou, pelo menos, atoladas pela ação coordenada dos países oprimidos.
Nas pesquisas actuais, Trump derrota não só todos os adversários internos do bloco republicano do imperialismo, mas também os adversários do bloco oficial, dos democratas.
As contradições internas refletidas na superestrutura podem levar à paralisia em relação aos concorrentes internacionais e à perda de um tempo precioso na corrida contra eles.
Restrospectivamente, isto ficou evidente nos 4 anos do governo Trump, quando as contradições intra-imperialistas dentro dos EUA se acentuaram e esse período foi bem aproveitado pelo pólo russo-chinês.
Todavia, deve-se notar que o pólo russo-chinês não avançou apenas durante o período Trump. No atual período Biden, também. Isto indica que se trata de uma tendência profunda da crise da fase imperialista do capitalismo e de rearranjo do mercado mundial que vai além da mudança das castas dominantes, que tem como epicentro a própria primeira potência mundial. Em outras palavras, com as ferramentas políticas, militares e económicas, o imperialismo está a perder a batalha contra os seus inimigos (Síria, Afeganistão, Ucrânia).
Neste contexto, a política de extermínio do sionismo, apenas comparável à própria política do Terceiro Reich contra a Rússia e os seus inimigos internos (judeus, comunistas, ciganos), pode ser uma nova atitude do imperialismo no seu desespero em perder a batalha com os seus inimigos. Mesmo assim, não há garantia de que esta política bestial do nazi-sionismo possa alcançar a vitória, a estratégia imperialista está sendo derrotada. Além disso, os novos nazi-fascismos expressam apenas a decadência imperialista e ultraliberalismo. Por outro lado, Hitler só foi derrotado pelo maior estado operário do seu tempo. Infelizmente, hoje os oprimidos não têm nada semelhante à URSS com a iniciativa de intervir no conflito e salvar a Palestina de Israel. Com esta observação não querem descartar a combinação das guerrilhas combinadas do Hamas, Hezbolla, Houthis, o chamado Eixo de Resistência apoiado pelo Irão e pelos BRICS, mais a mobilização global pró-Palestina nas ruas realizarão a improvável vitória da Palestina sobre a máquina de guerra de Israel .
Assim, em todos os espectros externos, internos, na economia política, na política economica e na geopolítica temos impasses da política do imperialismo com os explorados e oprimidos. Isto significa dias melhores para o proletariado mundial a curto prazo? De modo algum! Mas indica que temos que aprender a explorar as fraquezas profundas e crescentes do inimigo a ser vencido a médio prazo.
Seriam os republicanos contra os democratas ou todos contra Trump?
Sem encontrar a resposta para o impasse, o imperialismo intensifica a sua guerra interna, o que por sua vez alimenta o próprio impasse no sistema imperialista, enfraquecendo-o a todos os níveis. Deve-se notar que o segundo semestre de 2023 foi extraordinariamente aquele que teve o maior número de greves nacionais de trabalhadores nos Estados Unidos até agora no século 21.
Neste momento, além de avançar a ferramenta da guerra legal contra Trump, a Casa Branca conforma uma frente unica com os adversários de Trump dentro do próprio partido de Trump contra o poderoso inimigo comum. O facto de componentes orgânicos do imperialismo, como a burguesia gusana, procurarem hoje alternativas fora do Trumpismo no Partido Republicano, como De Santis, reflete que avança essa frente anti-Trump dentro e fora do Partido Republicano. Este é um dos paradoxos da guerra civil em curso: seriam republicanos contra os democratas ou todos contra Trump?
O povo também faz cálculos políticos. O mesmo governo que o faz passar fome enquanto investe milhões na indústria armamentista em guerras perdidas como a da Ucrânia, ou em guerras obviamente criminosas, como o massacre da Palestina, está a recorrer a todos os tipos de guerra híbrida contra Tump para não o deixar vencer. Todos contra Trump alimentam o próprio Trumpismo. Na falta de um Partido Trabalhista fundado e controlado pelos próprios trabalhadores, as duas alas do imperialismo seguem manipulando o ódio do proletariado como têm feito até agora.
Biden pessoalmente teme uma vitória de Trump que, se escapar do lawfere contra si, ameaça se utilizar das decisões judiciais contra a sua família devido ao profundo envolvimento do clã Biden com todo o processo golpista, corrupto e militarista na Ucrânia, de 2014 até hoje (o caso Hunter Biden – Burisma).
Tudo isso se reflete em uma política imediata e desesperada dos Democratas, do clã Biden para a sua sobrevivência, ou uma necessária política de Estado do imperialismo? Todas as determinações se interpenetram e conspiram para um mesmo desenvolvimento.
Os Democratas se apresentam como os únicos capazes de travar um processo que até agora, seja com Trump ou com Biden, parece imparável, o avanço dos BRICS no mercado mundial e o recuo do imperialismo (Documento do CLQI: Marxismo e a Guerra Fria após a contrarrevolução).
Ao mesmo tempo, a vitória de Trump não é apenas a vitória de uma ala do imperialismo, mas também do setor que em muitos aspectos se apresenta como o representante mais radical do capital imperialista contra os trabalhadores e oprimidos do mundo, do fascismo tipo Bolsonaro ou Milei.
O processo de perda de controle do sistema imperialista sobre os países oprimidos revelou-se imparável após a guerra na Síria, de derrota da frente imperialista para a frente de resistência conformada também pelo Irã e Rússia. Este processo só pode ser interrompido por uma vitória do imperialismo sobre os países oprimidos numa terceira guerra mundial. Mas, para derrotar os inimigos externos e ganhar uma guerra mundial, o imperialismo ainda deve resolver a sua explosiva disputa interna.
Isto gera lacunas no sistema mundial que podem e devem ser aproveitadas pelo proletariado para além da derrota do sistema imperialista e da criação de um mundo multipolar (conformado por estados burgueses, como Rússia, e operários, como Cuba e Coréia do Norte) e desde que o próprio proletariado internacional se dê uma liderança que represente seus interesses históricos para se livrar da dupla cadeia de exploração e avançar na luta contra toda a exploração capitalista, inclusive dos governos burgueses dos países oprimidos.