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Trump tenta salvar o pescoço de Netanyahu

Trump tenta salvar o pescoço de Netanyahu

A declaração a seguir explica porque o cessar-fogo, sob a pressão de Trump, foi uma vitória palestina e uma derrota do sionismo. Foram atingidos não os objetivos de Israel, mas os do Hamas. Quem capitulou?

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Declaração conjunta da LCFI e da ClassConscious

A declaração pode ser acessada também em inglês aqui (DC), aqui (CC) e aqui (MSO). Em castellano, aqui (TMB).

 

O cessar-fogo em Gaza, após 15 meses de genocídio sionista, foi imposto a Israel pela resistência dos palestinos. No entanto, a forma que está tomando, com o governo Trump, muito sionista, aparentemente ditando o que fazer para Netanyahu e seu gabinete, é coreografado para tentar salvar o regime de Netanyahu e limitar os danos sofridos pelo projeto colonialista sionista. Trump quer usar o cessar-forgo, bem como a derrubada muito conveniente e orquestrada do governo de Assad na Síria, invadido por jihadistas apoiados pelos EUA/Israel/Turquia, para tentar salvar os chamados Acordos de Abraão – a "normalização" do governo israelense sobre os palestinos com os colaboradores árabes históricos dos EUA: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Catar. O colapso sírio está sendo usado para contrabalançar os fracassos de Israel em Gaza e no Líbano e tentar colocar o plano sionista de volta nos trilhos. Mas essa intervenção de Trump nem seria necessária se Israel não tivesse falhado visivelmente em Gaza.

Todos os objetivos de Israel em Gaza – a derrota e destruição do Hamas, o despovoamento de Gaza, ou o extermínio de sua população, e o assentamento do enclave, não aconteceram – pelo menos até agora. Muitos foram mortos, mas a população se recusou a fugir – e forçou Israel a assumir a responsabilidade e ser visto assassinando-os. Isso desmoralizou e desacreditou o sionismo em todo o mundo. 

 

Ministro da Defesa de Israel, Gideon Saar: “O forte envolvimento dos Estados Unidos e do presidente Trump foi de muita, muita influência e ajuda nas últimas semanas... Isso não é para dizer que o presidente Trump e o governo que agora assume o poder nos forçou a fazer algo que não queríamos... Eu discordo que os objetivos foram atingidos. Nós vemos as imagens de Gaza hoje. O Hamas ainda está no poder na Faixa de Gaza”.

 

O objetivo do Hamas em 7 de outubro de 2023 era a captura de muitos prisioneiros israelenses para troca por reféns palestinos e sobreviver ao ataque brutal de Israel, que eles sabiam que viria logo após qualquer revolta séria contra a ocupação sionista. Na mesa agora está uma grande troca de reféns, com muitos palestinos trocados por cada israelense, e uma retirada israelense completa, embora em fases. Embora Israel rotineiramente quebre cessar-fogo e quebrará este, são os israelenses que estavam desesperados por isso, como foi o caso no Líbano.

Parece haver um colapso do moral das IDF. Um número importante de soldados recusam-se a lutar para atender classe dominante sionista. Dizem que o exército israelense está entrando em colapso, com colapsos mentais generalizados. A rede de túneis do Hamas ainda funciona bem, apesar dos massacres. As tropas israelenses estão emboscadas, armadilhadas e sofrendo múltiplas baixas. Mas o que realmente está causando os problemas com as IDF é algo que os nazistas estavam cientes, tentaram muito evitar e encontraram maneiras parciais de contornar.

Se as tropas forem ordenadas a cometer atrocidades terríveis, elas serão vítimas de doenças mentais. A maneira dos nazistas evitarem isso era SS Einsatzkommandos – fazendo com que outras forças em países ocupados realizassem os piores crimes. Israel tentou isso na década de 1980 no Líbano com a Falange e o chamado Exército do Sul do Líbano, mas não funcionou muito bem. Em parte porque, embora os israelenses fossem brutais, eles não tinham atingido o limiar do genocídio – e seus vassalos não eram confiáveis. Em Gaza, eles não têm esses vassalos para fazer o serviço mais sujo por eles. Eles não conseguiram que ninguém lutasse por eles, exceto por alguma ajuda com reconhecimento aéreo de países ocidentais. Eles tinham todas as armas de que precisavam de apoiadores imperialistas externos, cortesia do lobby sionista. Mas isso não é um escudo suficiente. Israel falhou no objetivo de derrotar o Hamas.

Israel não conseguiu recapturar os que foram levados. E agora eles vão trocá-los. Esse era o objetivo do Hamas o tempo todo. Netanyahu sabia que recuperá-los sem um acordo não era possível, mas era uma oportunidade para o genocídio, para reduzir massivamente, se não eliminar, a população de Gaza. O regime pode ter matado meio milhão de palestinos de Gaza. A Lancet , no verão passado, estimou pelo menos 186.000 mortos: Susan Abulhawa, a cientista palestina que debateu Gaza para os palestinos na Oxford Union, estima até 500.000. Ninguém acredita nos números de quase 50.000 do ministério da saúde civil de Gaza. Eles não tiveram chance de manter a contagem daqueles enterrados sob os escombros, morreram de fome ou de sede, ou de ferimentos que não puderam ser tratados porque os sistemas médicos foram destruídos, ou de doenças que eram igualmente intratáveis.

Por que agora? A reeleição de Trump tornou isso possível, mas não porque as ameaças deles fizeram o Hamas capitular. O republicano ameaçou com o "inferno" se os reféns não fossem libertados. O Hamas não capitulou. Eles esperaram por uma troca de reféns presos há décadas e conseguiram uma. Essa é a realização de seu principal objetivo de guerra. Parece que a volta de Trump ao governo deu a Netanyahu a chance de finalmente capitular. Com os democratas no poder, mesmo que eles não ousassem confrontar Netanyahu e o lobby durante um conflito armado, parte deles pode ajustar as contas com Netanyahu. Os democratas têm uma ala que não gosta muito do sionismo, embora sejam covardes demais para fazer algo a respeito durante um conflito armado. Se a "guerra" genocida israelense tivesse terminado com os democratas ainda no poder, eles poderiam ter tentado se livrar de Netanyahu. O acordo de agora não mudou nada em relação ao que o Hamas havia posto sobre a mesa de negociaçõres desde maio de 2024, mas que havia sido rejeitado por Israel, pois Netanyahu temia ser deposto em seguida. Mas as coisas chegaram ao ponto em que o ataque israelense a Gaza teve que terminar de uma forma ou de outra, porque as IDF estão se desintegrando.

Mas os republicanos dos EUA liderados por Trump estão tão perto do Likud quanto você pode chegar. Eles tentarão proteger Netanyahu e proteger Israel de acusações de genocídio, o que, apesar de toda a histeria sionista e caça às bruxas na política burguesa, é uma questão explosiva. É precisamente porque os sionistas estão tão manchados moralmente que a histeria sionista atingiu um nível muito alto. O GOP (sigla popular parar designar o Partido Republicano, Grand Old Party) já impôs sanções contra o TPI (Sobre o impacto contraproducente de um novo esforço republicano para punir o Tribunal Penal Internacional). Então, o fato de Netanyahu esperar até que Trump estivesse prestes a assumir o poder para fazer o acordo necessário tem uma certa lógica, em termos de tentativa de redução de danos. Embora seja provável que Netanyahu se veja logo em apuros com as acusações de corrupção que ele enfrenta na política burguesa israelense. O ministro do partido de extrema direita Poder Judaico, Ben Gvir, saiu do governo quando o cessar-fogo entrou em vigor. O clérigo-fascista Smotrich provavelmente fará o mesmo. Ambos esperam uma oportunidade de se juntar e reiniciar o ataque a Gaza. Netanyahu tentou fazer o Líbano parecer algum tipo de vitória. Ele só conseguiu fazer isso por causa da Síria e da confusão que a queda de Assad causou.

Mas ele não será capaz de facilmente transformar isso em vitória, pois haverá uma troca de reféns, o que pressupõe que o Hamas segue de forma indiscutivelmente no poder em Gaza. Os companheiros americanos de Israel tiveram que admitir que o Hamas ganhou muito mais recrutas do que perdeu voluntários lutando contra os ataques genocidas. Isso também torna a política de dois estados, a extensão da Autoridade Palestina colaboracionista para Gaza, um objetivo incrivelmente difícil. O Hamas tem, sem dúvida, uma autoridade muito maior do que os colaboradores de Abbas. Em termos formais, o que representaria a vitória para Israel? O esmagamento do Hamas e a recaptura dos reféns sem nenhuma troca. A limpeza étnica de Gaza de sua população e o assassinato de tantos quanto possível se tornou seu principal objetivo de guerra, depois que percebeu que não tinha chance de vitória sobre o Hamas. Mas teve que admitir que o norte de Gaza, que tentou esvaziar com a política de extermínio denominada de "Plano do General" na última parte de 2024, seria repovoado. Também concordou em desocupar o Corredor Filadélfia entre o sul de Gaza e o Sinai, que tomou do Egito à força quando o genocídio estava em pleno andamento. Israel teve que concordar em se retirar totalmente de Gaza.

Talvez haja outros benefícios domésticos para Trump ao obter o cessar-fogo declarado literalmente um dia antes de assumir a Presidência novamente. Ao ser capaz de reivindicar o crédito pelo cessar-fogo de Gaza, não importa quão temporário, e ao planejar negociar o fim da Guerra da Ucrânia, Trump pretende encerrar essas "guerras eternas" e sob a falsa bandeira de ser um "pacificador", Trump pretende realmente se preparar para a guerra mundial. Trump e sua facção estão buscando resolver a crise da hegemonia dos EUA reorientando a estratégia imperialista dos EUA para se concentrar em pressionar a China econômica e militarmente da maneira mais agressiva possível. Isso requer mobilização total de recursos para uma guerra mundial. Requer repressão fascista em casa para regimentar o público a aceitar uma orientação manifestamente louca.

Israel, construído em terras inteiramente tomadas à força do povo palestino, é agora depois do genocídio definitivamente o estado pária do mundo. Isso não pode ser sustentado por muito tempo, embora uma casta judaico-sionista leal a Israel exista dentro da burguesia no Ocidente e seja um objeto de veneração semelhante a um culto das classes dominantes imperialistas. Cultos podem enfrentar um choque que os faz se desintegrar internamente. O sionismo está em crise profunda e minar sua autoridade fornece condições potenciais para o colapso de Israel por meio da emigração de muitos colonos e da desmoralização dos que permanecem. A demanda pelo direito palestino de retornar e a criação de um estado operário multiétnico da Palestina se torna viável. A documentação desse genocídio transmitido ao vivo apenas começou. Ele expôs a natureza bárbara do imperialismo capitalista a bilhões ao redor do mundo, e nós, comunistas, devemos levar para casa as lições disso para construir um novo movimento revolucionário mundial.

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