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Cavaleiro em Moscou (2024): Um Novo Capítulo da Guerra Cultural de Hollywood nas Plataformas Digitais

Cavaleiro em Moscou (2024): Um Novo Capítulo da Guerra Cultural de Hollywood nas Plataformas Digitais

A série é mais uma peça de propaganda ideológica produzida pela Paramount. Trata-se de uma espécie de “Labirinto do Fauno” (2006) às avessas.

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Leonardo Lima Ribeiro

Enquanto o filme (2006) de Guillermo del Toro usava a fantasia para mostrar a resistência ao fascismo na Espanha durante a ditadura de Francisco Franco, a série o “Cavaleiro de Moscou” transforma a Rússia em vilã dessa vez, mas tomando como base a literatura americana de Amor Towles (1964 – ), que lança mão de um protagonista aristocrata protonietzschiano russo (Conde Rostov) como ferramenta “poética” e “lúdica” para atacar ideologicamente o socialismo e o legado da União Soviética: considerada pelo literato como instância de asfixia, vigilância, punição e morte de liberdade criativa relativa às crianças e toda e qualquer pessoa que não viva do trabalho como meio de sociabilidade.

“O Labirinto do Fauno”, lançado em 2006, ambienta-se no contexto da Guerra Civil Espanhola e mostra, através dos olhos de uma criança, a brutalidade do regime fascista de Franco. A fantasia serve como uma válvula de escape para a jovem Ofélia, enquanto o filme desenha uma crítica poderosa ao fascismo, destacando a resistência popular e os horrores do autoritarismo. Del Toro, diretor de Labirinto do Fauno, emprega o poder do imaginário infantil para ilustrar a opressão de forma simbólica, criando empatia pela luta contra a ditadura.

Já “Cavaleiro em Moscou”, série lançada em 2024, usa a mesma fórmula — a fantasia e o uso de símbolos culturais —, mas com um objetivo muito diferente, além de, desta vez, o “fauno” ser inexistente. A série promove uma visão antirrussa (tanto quando a séria lançada anos atrás “Chernobyl” [2019]), associando subliminar e de forma subreptícia a União Soviética e seus ideais socialistas ao regime de Vladimir Putin, que tem sido amplamente criticado pela mídia ocidental no dias de hoje. Obviamente esta relação é indevida, mas operar na consciência das massas como verdade inexorável. Cabe ressaltar que isso é evidente porque ninguém percebe uma obra fílmica acerca de um passado recente sem os olhos e experiência que persistem em memória no presente e daqueles que estão vinculados ao país referenciado.

A estratégia é clara: difamar o socialismo e o passado da URSS, aproveitando-se de gatilhos psicológicos para manipular o público, e fazer com que a narrativa ocidental de hostilidade à Rússia hodierna penetre o inconsciente coletivo. A CIA trabalha bem via Hollywood, operando mecanismos próprios da tortura psicológica na superfície das mercadorias do prazer, vinculadas à indústria e mercadorias do entretenimento que circulam pelo mundo mediante lavagem de dinheiro do sistema financeiro. O objetivo: adquirir e egendrar capital político, ideológico e apoio popular no ocidente para impulsionar uma ofensiva antieslava e antioriental contra aqueles que são inimigos declarados da burguesia ianque dos EUA e monopólios capitalitas ocidentais, que convergem numa mesma forma de ação de domínio global imperialista.

A CIA e outras agências de inteligência norte-americanas têm uma longa história de colaboração com Hollywood, especialmente durante a Guerra Fria (1947-1991), quando muitos filmes foram produzidos com o objetivo de reforçar o anticomunismo. Filmes como “Amanhecer Vermelho” (1984) e “Rocky IV” (1985) reforçavam a ideia do “inimigo soviético”, alimentando a paranoia anticomunista nos Estados Unidos. Com “Cavaleiro em Moscou”, o padrão é repetido: a Rússia da primeira metade do século XX (e quem sabe a atual né?) é pintada com as mesmas tintas sombrias da Guerra Fria, e o socialismo é vilanizado de forma indireta.

Através dessas produções, Hollywood continua a servir como um cavalo de Troia ideológico, empurrando uma narrativa ocidental que mistura entretenimento com manipulação psicológica. O público consome esses filmes sem perceber o veneno ideológico embutido neles. É uma forma de tortura psicológica disfarçada, onde as ideologias do prazer e do entretenimento estão conectadas à política internacional e ao controle de narrativas, o que muitos atualmente chamam de economia política da percepção. O que vemos na tela é, portanto, apenas a ponta do iceberg, uma fachada atrás da qual os interesses ocidentais trabalham para moldar a percepção global sobre a Rússia e outros países a ela alinhados.

Assim, a trajetória ideológica que está por trás de “Cavaleiro em Moscou” no contexto das plataformas de streamming é longa e bem planejada. Desde a Guerra Fria, os EUA utilizam o cinema como arma de controle cultural, e a parceria entre a CIA e Hollywood é uma peça central nessa máquina. A difamação do socialismo e o reforço de estereótipos russófobos continuam a operar, agora adaptados para o contexto do século XXI, mas sempre com o mesmo propósito: criar vilões onde convém ao interesse político e econômico do Imperialismo.

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